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CARTAS DE LONDRES
abril 30, 2004
  O Guardian e o Iraque - Enough already! O mais recente editorial do jornal de referência da esquerda britânica - compreensivo de Blair mesmo na questão da invasão do Iraque, embora com reservas - vem ilustar o impacto das críticas que os diplomatas e os militares britânicos têm vindo a fazer de forma cada vez mais pública a respeito da estratégia norte-americana para o Iraque. O exemplo escolhido para mostrar a contenção da força britânica, a sua acção na cidade de Amara, onde foram mortos 6 soldados britânicos, em contraste com a actuação americana em Faluja, onde morreram 4 norte-americanos, mostra bem como não se pode reduzir tudo isto a uma questão de zonas boas e zonas más. E os argumentos contra o envio de mais tropas britânicas mostram a extensão da enorme crise de confiança ao nível da elite britânica, mesmo a mais próxima de Blair, quanto ao que se está a passar no Iraque. E, nomeadamente, quanto às possíveis consequências para Londres e para o futuro do governo trabalhista. O título diz tudo - já chega de asneiras! 
abril 29, 2004
  Hearts and Minds no Iraque, ou mais uma bandeira para queimar Há uns dias o grande especialista de contra-guerrilha nos EUA, Max Boot, um dos neo-conservadores, recomendava no LA Times medidas para melhor a situação desastrosa ao nível da guerra psicológica no Iraque. Não creio que a solução fosse brilhante - pôr iraquianos como porta-vozes das autoridades de ocupação. Mas é, em todo o caso, reveladora do tipo de lógica que os norte-americanos parecem querer imprimir à transferência de soberania. No fundo, trata-se da receita do comissário britânico no Iraque no início do século XX, Sir Percy Cox - uma 'transformação da fachada da administração vigente de britânica [leia-se americana] para árabe’. Sempre é melhor do que a alternativa da continuação de uma ocupação pública e notória. Mas já na altura poucos iraquianos acreditaram numa ficção desde genéro. E continuaram a exigir sempre mais.
Mas para entreter os iraquianos, enquanto esperam pelo 30 de Junho, há uma nova bandeira para a queimar! O governo provisório nomeado pelos EUA decidiu substituir uma bandeira nacional com décadas! Com ideias como esta, os insurrectos nem precisam de se preocupar em agitar as massas. Para piorar as coisas a bandeira faz lembrar a de Israel. Pelo menos é o que dizem os iraquianos, cada vez mais convencidos de que estão a ser sujeitos a uma ocupação semelhante à dos palestinianos. Mais, o respectivo autor teve o cuidado louvável de incluir a cor nacional dos grandes aliados dos americanos, os curdos. Mas lamentavelmente esqueceu-se de incluir o verde, a cor árabe e islâmica tradicional. Pormenor curioso, o desenhador é irmão do ministro encarregue de escolher a nova bandeira num concurso aberto. A nova democracia a funcionar? Bem, desde logo há o pequeno pormenor de que este goveno não foi eleito. E, contactado pelo Independent, o inventor do novo estandarte, do seu domicílio em Londres, confessou que não sabia nada do concurso, limitou-se a fazer o que o irmão ministro lhe tinha pedido! Será esta a bandeira usada na cerimónia do 30 de Junho? Duvido que esta medida de guerra psicológica, como tantos outros planos para a transição de poderes, sobreviva até lá. 
abril 27, 2004
  O futuro de Blair, o Iraque, e a Europa Os três estão agora mais ligados do que nunca. Quanto ao Iraque, há crescentes pressões norte-americanas para que tropas britânicas substituam o contingente espanhol. Por um lado, porque não há alternativa, não há exactamente países a voluntariar-se para a tarefa. Por outro, porque os militares norte-americanos querem pôr à prova a receita britânica de peace-keeping, e calar as críticas dos seus colegas britânicas ou beneficiar da receita (fala-se mesmo de um contingente em Bagdade!). Uma receita que o Chefe do Estado Maior, Sir Mike Jackson, foi obrigado a assumir publicamente num depoimento perante uma comissão parlamentar, é diferente da norte-americana. Veremos o que resulta daqui… Até porque a confiança de uma população não se ganha num par de semanas, sobretudo quando já foi alienada por acções anteriores. Mas não há dúvidas de que o simples facto de enviar mais tropas para o Iraque iria complicar a vida de Blair.
Tanto mais que Bob Woodward deixa claro no seu novo livro, Plan of Attack, que o PM britânico poderia não ter enviado tropas britânicas, pois Bush II deixou claro que não levaria isso a mal (o que, diga-se de passagem, é bem um sinal da inconsciência com que ele encarou a ocupação do Iraque). Um facto que torna mais difícil para Blair argumentar que a relação entre a Grã-Bretanha e os EUA teria sido abalada seriamente se os britânicos não participassem na invasão.
Esta proximidade entre Bush II e Blair foi alvo de um gesto inédito de crítica. Cinquenta embaixadores na reforma atacaram violentamente em carta aberta ao PM o alinhamento estreito entre a Grã-Bretanha e os EUA no Médio Oriente. Entre eles estão pesos pesados do establishment como Sir Marrack Goulding. Eles afirmam, preto no branco, que chegou a altura de Blair começar a influenciar Washington ou afastar-se de Bush II, antes de a posição de Londres na região sofrer danos irremediáveis, nomeadamente por causa da indignação causada pelo apoio da Casa Branca ao 'plano de paz' de Sharon. A grande questão é se Blair ainda tem espaço de manobra para isso.
Espaço de manobra que foi ainda mais limitado pela surpreendente decisão de Blair, num improviso pouco característico, de avançar com um referendo à Constituição Europeia, caso esta venha a ser aprovada. Aparentemente ele já expressou, de forma ainda mais incaracterística algumas dúvidas sobre a sabedoria de mais uma decisão fundamental que tomou praticamente sozinho. É que se perder o seu posto por causa do Iraque, Blair pode sempre dizer que valeu bem a pena para derrubar um terrível ditador. Mas se for forçado a abandonar o N. 10 Downing Street, e pelo caminho contribuir para a retirada da Grã-Bretanha da UE, terá minado de forma irreparável um dos pilares da sua ambiciosa visão do papel britânico no mundo actual. 
abril 25, 2004
  Abril, evolução e liberdade Mas também é verdade que não há revolução sem modernização. Como defendia, nos anos 60, o jovem Samuel Huntington, que já era então um bom publicista e se entretinha com o problema da moda . As revoluções não acontecem em qualquer tipo de sociedade. As sociedades profundamente tradicionais são-lhe imunes, porque nelas a mudança é extremamente lenta. Como o são também as sociedades altamente desenvolvidas e prósperas, porque estando em contante mudança, dispõem de uma multiplicidade de instituições flexíveis capazes de lhe dar resposta. Huntington conclui mesmo em Political Order in Changing Societies que a ‘revolução é um aspecto da modernização’.Cá está, por um dos oráculos da era presente - a revolução é evolução! Mas como recorda o seu crítico Charles Tilly, se a modernização cria as condições da revolução, são os obstáculos particulares no campo político de um determinado processo de modernização que resultam numa dinâmica de mobilização dos descontentes com o sistema de poder vigente que resulta numa revolução. De outra forma, todas as modernizações teriam produzido sempre revoluções. Ou seja, Abril é mais do que simplesmente evolução. Como é óbvio Abril é acima de tudo revolução. Foi isso que distinguiu o que se passou, o PREC foi o PREC! Sem dúvida que o 25 de Abril é inseparável de uma enorme evolução do país. Uma enorme evolução que começou obviamente antes da revolução e durante o Estado Novo. Com a alfabetização, a modernização económica e a emigração, particularmente nos anos 60. Mas que redundou numa revolução, e não por acaso. Lá que houve complot houve, mas como dizia Salgueiro Maia, se ele em democracia quisesse convencer os seus alunos a fazer uma revolução ninguém o seguia. Por muitos defeitos que se apontem ao sistema actual isso é alguma coisa. É esse o sucesso essencial do 25 Abril. Tem algo para oferecer a toda a gente. Até aos conservadores, que agora estão sobretudo no PCP. Na medida em que democratizou e descolonizou, criou também as condições para um real desenvolvimento de que as estatísticas do governo falam, nomeadamente por uma melhor distribuição da riqueza e mais serviços públicos em áreas básicas, e last but not least para a integração na Europa. Estes foram precisamente os três Dês – Democratizar, Descolonizar, Desenvolver – que a revolução prometeu. É este sucesso, tanto quanto é humanamente possível falar de sucesso, que justifica que hoje seja uma dia para celebrar. Há muita coisa que se pode analisar e criticar no PREC e no regime actual? Claro. A perfeição excede as possibilidades do humano. Portanto, critique-se à vontade o 25 de Abril e o que se seguiu. Mas mesmo essa crítica é, de certa forma, um elogio de Abril. Foi a revolução que tornou possível a crítica livre em Portugal. Numa madrugada há trinta anos atrás nasceu a liberdade. E a liberdade, que as multidões gritaram nesse dia há trinta anos atrás, nunca vem cedo demais.

PS Já agora, se a vontade do governo era insistir na obra feita nos últimos trinta anos, e no lado mais consensual do 25 de Abril, porque não pegar no mote do Desenvolvimento, um dos três Dês do programa revolucionário? 
  Abril, revolução Por pura coincidência estou estes dias a rever um texto sobre revoluções no Mundo Árabe e Islâmico. O que tem o curioso efeito, aliás, de tornar claro neste momento em que tanto se insiste nas diferenças entre o Oriente e o Ocidente, como na verdade partilhamos tanta coisa. Este foi também o pretexto para a leitura de uma série de literatura teórica sobre o fenómeno das revoluções. E o mais curioso na polémica actual sobre revolução ou evolução em Portugal é perceber como reproduz temas com grandes pergaminhos intelectuais. Podemos ir até ao primeiros grandes analistas das revoluções modernas, Burke e Tocqueville. Ambos defenderam o ponto óbvio de que as revoluções só surgem em situações de impasse político. Ou seja, como escreveu recente Fernando Rosas, o 25 Abril foi a revolução necessária porque o regime do Estado Novo se mostrou incapaz de fazer a evolução indispensável, nomeadamente na questão chave da descolonização. Há quem diga que não se podia democratizar por causa das guerras em África. Resta saber se, por um lado, e a começar pela pessoa chave de Marcelo Caetano, realmente havia vontade de a fazer. A acreditar nas suas memórias há grandes razões para duvidar disso. Por outro lado, umas das razões pelas quais as guerras de África não podiam ter uma solução política, a única saída possível em todos os processo de descolonização, era precisamente porque não havia democracia em Portugal. Para romper esse impassse é que foi preciso fazer uma revolução. 
abril 23, 2004
  Síndroma de Versalhes? Parece estar toda a gente muito animado em Portugal com a entrevista com o Omar Bakri e com uma espécie de carta do Pedro Almeida que resolveu assumir-se como advogado de defesa da al-Qaeda no Público. Ninguém pode dizer que o jornal não está a tentar abrir o debate, ainda que para os extremos. Eu de facto sou culpado de tentar compreender o terrorismo, acho que é um fenómeno demasiado importante para ser ignorado. E até escrevi um artigo sobre isso há uns tempos na Política Internacional. Portanto acho que falar com um porta-voz do islamismo mais radical e próximo do terrorismo da al-Qaeda, como Bakri, é importante. Já me custa mais a ver o que a dita carta 'compreensiva' de Pedro Almeida vem acrescentar. A não ser munição para a continuação da guerrilha política que a pretexto da al-Qaeda e do Iraque tem entretido a classe falante portuguesa, com pouco para oferecer em termos de análise da realidade.
Um bom exemplo disso é o texto da resposta de Helena Matos ao Pedro Almeida, apesar de um pouco confuso e divagatório, parece defender que quem não alinha com a actual política israelita ou americana sofre de Síndroma de Estocolmo. Parece-me de utilidade duvidosa meter doenças ao barulho, nestas questões. Mas aqui vai uma sugestão para enriquecer o naipe dos que procuram expandir o desporto nacional do doentismo para a arena internacional. Que tal o Síndroma de Versalhes, uma espécie de imagem invertida do Síndroma de Estocolmo? Neste caso, a identificação seria não das vítimas com os autores dos abusos, mas o contrário. Um bom exemplo no campo internacional seria a Europa dos anos 30, em que Londres e Paris se identificaram de tal forma com as vítimas das condições de paz por eles imposta em Versalhes em 1919 – particularmente aos alemães do Sr. Hitler – que acharam que todos os abusos que Berlim pudesse cometer para inverter a situação mereciam alguma compreensão. Hoje estaria a assistir-se à compreensão de tantos europeus pelas políticas de Bush II e Sharon. Não já dúvida de que o 11 de Setembro foi um acto terrível, mas que não justifica a política desastrosa dos EUA no Iraque, que apenas veio reforçar a al-Qaeda e os seus aliados. Tal como os horrores do genocídio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, ou dos ataques bombistas contra civis em Israel, não desculpa a política desastrosa de Tel-Aviv nos Território Ocupados, privando dos seus direitos mais básicos todos os palestinianos. Talvez seja, afinal, também deste Síndroma de Versalhes que sofrem os que se mostram compreensivos com a al-Qaeda - como os árabes sofreram e sofrem muitas injustiças (basta ver os enormes guetos em que estão a ser transformados os Territórios Ocupados), há que compreender o terrorismo... Não é evidentemente este tipo de compreensão do terrorismo que me interessa. 
abril 22, 2004
  Os atentados de Baçorá, e os britânicos no Iraque A morte de tantas crianças deve chocar qualquer pessoa, mesmo no meio do caos reinante. A tragédia sangrenta do Iraque continua, infelizmente, um ano depois da queda do ditador. Aqueles que exprimiram reservas quanto à invasão americana precisamente por temerem que, como noutras partes do mundo, a uma ordem ditatorial terrível, se seguisse uma anarquia não menos terrível, vêm os seus temores confirmados.
A al-Qaeda há muito que procura aproveitar a tensão acrescida entre as forças de ocupação e sunitas (depois do cerco de Fallujah) e xiitas (com o confronto com al-Sadr) para seu benefício. E alastrar o conflito para sul, para zona britânica até agora em boa parte pacífica. Os britânicos conseguiram mesmo, com mediação local, evitar o confronto com a milícia de Sadr na sua área. Os atentados de hoje são uma tentativa para minar esse esforço.
Recentemente tive a oportunidade de visitar durante um dia o campo de treino em que as tropas britânicas se preparam para o Iraque. A minha impressão do profissionalismo das mesmas saiu reforçada. Os soldados são treinados num ambiente que procura reproduzir o mais detalhadamente possível o que irão encontrar no Iraque, com mesquita e tudo. Os norte-americanos, como toda a gente no mundo islâmico sabe graças às imagens chocantes mas verdadeiras da al-Jazeera, acabaram, aliás, de bombardear uma há poucos dias! De facto, alguns dos instrutores britânicos tinham participado numa missão de aconselhamento aos americanos em Bagdade. E vieram de lá chocados com o descontrolo reinante! E sobretudo receosos de que isso iria alimentaria o caos que acabaria por chegar às suas zonas.
Os britânicos aprendem a agir no quadro de uma pirâmide de escalada, e não devem dar um passo ou saltar degraus sem que isso seja deliberado. Mas encontraram os norte-americanos em Bagdade e arredores a responder com barragens de artilharia a tiros de morteiro, a disparar indiscriminadamente contra multidões de onde tinham vindo disparos (foi assim que começou a radicalização de Fallujah)! O controlo de multidões foi aliás das partes mais interessantes do treino. Os norte-americanos viam inimigos em todo o lado. O exército britânico, como diria Palmerston, não tem inimigos permanentes. As tropas são treinadas não para dispar contra 'inimigos' em geral, mas sim para atirar apenas contra alvos específicoso, ou seja, homens armados que estejam atacá-las. No replay das simulações de tiro usadas pelos soldados britânicos, analisava-se a situação, sempre de alguma confusão, para ver se os disparos haviam sido justificados ou não.
Que depois na prática todo esta treino sofra distorções é de se esperar, mas será simplesmente por acaso que as coisas têm estado muito mais calmas no zona britânica, mesmo depois da insurreição dos xiitas radicais de al-Sadr? Em suma, como disse um dos oficiais na messe poucos antes de partirmos, parafraseando Churchill, temos de ter esperança que os norte-americanos acabem por agir de forma acertada, depois de terem esgotado todas as outras alternativas. O apelo patético de Bush II ao auxílio da ONU para facilitar a transição para a soberania iraquiana, vem confirmar esta regra. Mas, entretanto, a al-Qaeda - agora - conseguiu uma ligação com o Iraque, e o sangue continua a correr... 
  Bob Woodward e a cimeira dos Açores Quem quizer ficar com uma ideia melhor do que se passou na cimeira dos Açores pode ler a sequela do Bush at War. O novo livro deste repórter rebelde de Watergate transformado em ultimate insider, Plan of Attack, está a ser pré-publicado no Washington Post Relativamente à reunião nas ilhas dos falcões - como lhe chamou alguma imprensa internacional, deliciada com a conotação belicista dos açores que deram o seu nome ao arquipélago - Woodward afirma que a preocupação fundamental de Bush II, mesmo neste encontro muito restrito, foi em deixar claro que estava apenas a informar os seus aliados do que iria fazer. A decisão fundamental estava tomada e não seria submetida à sua apreciação. Apenas em termos de apresentação pública da questão, Bush II aceitou fazer algumas cedências. Nomeadamente os britânicos tiveram a possibilidade de alterar o ultimato televisivo que Bush iria ler daí a 48 horas, para o tornar menos agressivo e mais digerível pela opinião pública britânica. Mas não mais...
No entanto, é de realçar que segundo Plan of Attack as garantias anteriores de apoio de Blair haviam sido decisivas para Bush II se sentir capaz de avançar até aquele ponto. Ou seja, a opinião de críticos, como Robin Cook, que consideravam errada a ideia de Blair de que os EUA avançariam sozinhos, parece confirmada. E portanto a Grã-Bretanha perdeu um oportunidade decisiva para reforçar, quer o peso internacional da Europa, quer o modelo de um internacionalismo, legal e multilateral, que pareciam ser os objectivos fundamentais da política externa de Blair até à crise do Iraque. 
  A Espanha, Portugal e o Iraque O governo espanhol decidiu iniciar as medidas no sentido de retirar as suas tropas no mais breve espaço de tempo possível. O primeiro-ministro português achou por bem criticar publicamente a medida. Percebe-se a tentação de o fazer, pois a situação causa-lhe problemas políticos internos. Mas tendo em conta os interesses permanentes de Portugal em manter um bom relacionamento com Espanha, valeria a pena gastar cartuchos a respeito de uma questão em que claramente Zapatero não quer nem pode recuar. E em que se o fizesse não seria certamente por causa de pressões portuguesas?
Na verdade, e de forma nada surpreende, a enorme pressão pública que os EUA e companhia fizeram sobre Madrid apenas resultou num reforço da determinação do novo governo em não se deixar condicionar por ninguém. Espanto-me que os pregadores das virtudes da coragem política, os teóricos da liderança que tanto têm abundado em Portugal, venham agora atacar Zapatero. E é verdade que ele 'sentiu necessidade' de deslocar mais tropas espanholas para o Afeganistão. Mas afinal não é esse o sítio onde as tropas podem ser mais úteis para combater a al-Qaeda, a grande inspiradora dos ataques de Madrid? 
abril 05, 2004
  Guerra civil no Iraque? Parece incrível que os norte-americanos continuem a gerir a situação no Iraque, evidentemente muito difícil e recheada de alternativas pouco agradáveis, com o que não deixa de ser um primarismo assustador. A gestão da questão do imã radical Moqtada al-Sadr, que pode levar à perda do apoio de um grupo chave como são os xiitas iraquianos, devia ser feita com enormes cuidados. Ao invés disso, vemos mais uma vez vir ao de cima a ideia de que a força é a melhor forma de resolver de uma vez por todas problemas complexos. Que os resultados são desastrosos está bem à vista. Qual a extensão do desastre é a questão ainda em aberto. 
  Longa ausência canadiana Regressamos depois de umas semanas de ausência por razões várias. Nomedamente a conferência da International Studies Association no Canadá, onde a internet estava estritamente racionada, até uma passagem por Nova Iorque, aonde a internet era cara e difícil de encontrar, até um regresso ao Portugal profundo aonde a internet é mais teórica do que real. A conferência anual da ISA, apesar do frio anormal para esta altura do ano em Montreal, ou seja, ainda mais graus negativos do que o costume, o debate foi vivo. Mas inesperadamente num ponto as diversas correntes dos especialistas de relações internacionais, norte-americanos e não só, convergiam - na crítica à política externa da Administração Bush II. Mesmo os realistas norte-americanos mais tradicionais, como John Mersheimer, se atiravam às iniciativas externas do actual governo norte-americano. Seria de esperar tendo em conta os seus textos recentes. Mas fê-lo com um empenho que espantou muita gente. Os neo-cons estavam ocupados, mas devem ter ficado com as orelhas a arder. Quando questionei Mersheimer sobre o grau de proximidade entre a actual administração e a escola realista e neo-realista, ofensiva ou defensiva, deu como exemplo de um distanciamento expresso dos académicos abaixo assinado que publicou no New York Times. Segundo ele, tudo resultou de um simples e-mail, e apenas duas das pessoas a quem o enviou manifestaram dúvidas sobre assinar, mas acabaram por fazê-lo. Referiu ainda o facto de Condi Rice ter publicamente afirmado que afinal a regra do balancing das potências hegemónicas podia sofrer excepções permanentes. Em suma, como já muitos desconfiavam, Bush II e a sua equipa podem ser muita coisa, mas realista é que ele não é, em sentido nenhum. Mais, o debate mesmo ao nível da elite norte-americana desmente os que o tentam reduzir toda esta questão a uma dicotomia simples entre pró-americanos e anti-americanos 
Este é um blog liberal, cheio de convicções e à procura de patrocínios. Temas? As coisas que realmente (me) interessam. Procuramos, acima de tudo, seguir as máximas do nosso João das Regras «Olhai, porém vede!» e do imortal bispo inglês Joseph Butler, «Things and actions are what they are, and the consequences of them will be what they will be: why then should we desire to be deceived?» Divirtam-se, que nós também. Comentários: BrunoCardosoReis@sapo.pt

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