CARTAS DE LONDRES
Oração
Também pela forma se rezar se conhece as pessoas. Aqui fica a oração diária de Eleanor Roosevelt que me faz lembrar muito Maria de Lourdes Pintasilgo.
Our Father, who has set a restlessness in our hearts and made us all seekers
after what that which we can never fully find, forbid us to be satisfied with
what we make of life. Draw us from base content and set our eyes on far-off
goals. Keep us at tasks too hard for us that we may be driven to Thee for
strength. Deliver us from fretfulness and self-pitying; make us sure of the good
we cannot see and of the hidden good in the world. Open our eyes to simple
beauty all around us and our hearts to the loveliness men hide from us because
we do not try to understand them. Save us from ourselves and show us a vision of
a world made new.
Eleanor Roosevelt’s nightly prayer in Mary Ann Glendon, A World Made
New : Eleanor Roosevelt and the Universal Declaration of Human
Rights
PS Vamos ficar off-line por uma semana ou duas. Até breve, espero...
Os amigos de Israel
Alguma direita bloguística (e não só) parece que sente necessidade de pôr no CV uma peregrinação qualquer a Jerusalém, capital eterna do povo judeu... Quando não há material, não há problema, inventa-se. O
Pedro Oliveira fez um poste a comentar um artigo de fundo numa das melhores revistas inglesas de debate de ideias sobre um historiador israelita que passou a defender a limpeza étnica como solução para o problema palestiniana. Oh inocente! Logo uma recente aquisição do Acidental viu aí a sua oportunidade! Como os argumentos não dão para mais, partiu para os insultos habituais. Mas há uma passagem que merece ficar registada, quando este crítico arrepiado do racismo anti-semita, se refere ao '
traço anti-semita que está nos genes da esquerda'.
Para quem goste de histórias de arrepiar, aqui fica uma, que me parece vir a propósito. Um amigo meu, um israelita centrista e ex-membro das forças especiais foi cortar o cabelo; o que em Inglaterra é uma aventura cara e arriscada. Ao fim de pouco tempo o barbeiro escolhido pergunta-lhe de que país ele é. Algo inquieto, o meu amigo responde: 'Israel'.
Faz-se um breve silêncio, e o barbeiro responde com um sorriso: 'Israel! Gosto muito! Eu também odeio os árabes, muçulmanos, essa gente toda!'
Comentário do meu amigo: 'É por causa isto que eu tenho cada vez mais receio dos ditos "amigos de Israel!"'
Liberalismo e cepticismo
Só agora me chegaram ecos
da resposta de AAA ao meu poste de há algumas semanas atrás sobre Liberalismo. Qualquer dia tenho de aprender a encontrar referências a postes meus... O ponto essencial de AAA parece ser que o verdadeiro Liberalismo sempre foi céptico quanto ao Estado. Ora eu tenho problemas, desde logo, quanto a poder falar-se de
um verdadeiro Liberalismo, afinal, a noção de ortodoxia é pouco liberal.
Mas quanto a um pensador central do liberalismo clássico como John Locke, o que se pode detectar é
cepticismo quanto ao Estado, mas quanto ao Estado despótico. O cepticismo generalizado parece-me ser característico em termos de correntes políticas, isso sim, do pensamento conservador, que é o que algum do dito liberalismo actual realmente é na Europa, como algum do dito liberalismo na América anda próximo de um populismo de equerda, maximalista senão marxista. Mas
o liberalismo clássico vê no Estado um decisivo instrumento emancipador. É possível pensar numa missão mais nobre para o Estado do que esta?
O liberalismo é para mim, hoje, essencialmente um centrismo reformista (na linha de Berlin on Arthur Schlesinger Jr.), que recusa a adesão a priori a um cepticismo sistemático em relação à tradição ou à inovação, e que é fundamentalmente crente na capacidade dos homens para se organizarem melhor para o seu bem comum.
O neo-liberalismo esse sim parece radicalmente céptico quanto à capacidade do Estado para fazer algo de útil. (Veja-se
os delírios do João Mirando sobre o artificial e o natural; será que ele prefere o bairro ‘natural’ da Musgueira ao bairro 'artificial' da Expo?)
Quanto à escola austríaca, a verdade é que ela hoje é lida e citada essencialmente em tradução inglesa...
A política externa de Kerry
Não me vou dar a grande trabalho para comentar
a campanha para denegrir Kerry por ter cumprido o seu dever no Vietname, enquanto Bush II, o grande presidente guerreiro, nem sequer se deu ao trabalho de aparecer para cumprir a sua missão heróica como piloto da reserva que defendia o espaço aéreo do Texas; excepto para dizer que ninguém minimamente informado terá ficado surpreendido, afinal Bush II já tinha feito o mesmo com John MacCain o seu rival nas primárias republicanas de 2000, e nas eleições para o Senado, os republicanos também tinham atacado outro veterano, o senador Max Cleland. Como disse MacCain na altura cara a cara com Bush II, ele devia ter vergonha... O facto é relatado na última Athlantic Monthly.
Além do artigo em que se compara o historial de Bush II e Kerry a pretexto dos debates políticos em que participaram; há ainda
um artigo excelente nesta Athlantic Monthly de Julho/Agosto sobre as ideias e a equipa de Kerry para a política externa. Nele fica claro que Kerry percebe que o mundo não se reduz a questões de segurança, que a força não é o único instrumento de política externa, e que as alianças são mais do que empecilhos. Mas que também não terá problemas em recorrer à força se necessário e por melhores causas do que mostrar que os EUA são fortes (ó ironia!). Enfim, algo muito próximo da política (e dos protagonistas) do segundo mandato de Clinton, e que promete, além de mais bom senso, uma maior facilidade de entendimento com a Europa. A melhor citação é de Richard Holbrooke, pelo que diz sobre a Administração Bush II e pelo que deixa implícito sobre a atitude da equipa de Kerry (fala-se de Holbrooke como possível Secretário de Estado):
The neo-conservatives and the conservatives - they both exist in unseasy tension
within this Administration - shift unpredictably between advocacy of
democratization and advocacy of neo-imperialism without any coherent
intellectual position, except the importance of the use of force.
Desconcentração e reforma do Estado
É o nome certo para a coisa. Não tenho dúvidas de que a desconcentração das Secretarias de Estado vai ser um sucesso a desconcentrar. Já como medida de descentralização me parece ter um efeito nulo. Com a agravante de que vai aumentar ainda mais a despesa pública.
O país todo precisa é de ser governado com mais eficiência e menos fogo de artifício. O novo governo queria tomar uma medida radical e corajosa? Que tal diminuir drasticamente o número de ministérios e secretarias de Estado. Isso é que seria dar o exemplo necessário. Eu por mim até ia mais longe e propunha um pacto de regime para inscrever na Constituição (que até tem artigos a mais, mas este faz falta) o número máximo e a designação obrigatória dos ministérios. Um máximo de 14, e já era muito. Ao menos que o Estado legisle naquilo em que as leis bastam para fazer a diferença.
Livro para este Verão
Era suposto ter aparecido um poste com aviso de férias que se perdeu nos meandros da rede mundial... Mas ficam as desculpsas a quem nos visitou à espera de novidades. Para esta reabertura, ainda muito a meio gás e com interrupções pelo meio, aqui fica uma recomendação de leitura, um clássico de um dos mais fascinantes diplomatas portugueses do século XVIII, um livro de conselhos ao seu sobrinho que se iniciava na vida pública. Aqui fica um dos mais pleno de actualidade...
É muito conveniente, meu Filho, reduzir à prática os negócios, antes de entrar
neles; porque pouco importa que na teórica pareçam ser os mais úteis, se na
prática são impossíveis; as subtilezas são muito boas para fazer papéis…
D. Luís da Cunha, Carta de Instruções Políticas a D. Luís da Cunha Manuel, 15.º Conselho
Este é um blog liberal, cheio de convicções e à procura de patrocínios. Temas? As coisas que realmente (me) interessam. Procuramos, acima de tudo, seguir as máximas do nosso João das Regras «Olhai, porém vede!» e do imortal bispo inglês Joseph Butler, «Things and actions are what they are, and the consequences of them will be what they will be: why then should we desire to be deceived?» Divirtam-se, que nós também. Comentários: BrunoCardosoReis@sapo.pt
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