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CARTAS DE LONDRES
junho 04, 2006
  Novo abrigo Depois das tribulações, o acolhimento de amigos
julho 07, 2005
  A morte saiu à rua















É habitual os mortos fazerem umas visitas aos vivos para resolver problemas pendentes. A blogosfera presta-se aliás a aparições virtuais. Infelizmente estes trocadilhos mortais perderam muito da sua piada num dia como o de hoje. O Fernando escapou por pouco, e está numa forma que nos deixa a todos orgulhosos. Mas ainda não sei de vários dos meus amigos londrinos que costumam rondar aqueles sítios de morticínio, dois deles a dez ou quinze minutos de onde moro. Só espero que estejam bem, a todos a minha força, neste dia em que a morte saiu à rua na cidade onde tenho vivido nestes últimos anos.

Eu não estou em Londres. Hoje isso parece traição. Mas vou voltar, claro. Não se pode deixar esmorecer a cidade que venceu o Blitz, por cujas cicatrizes passo nas minhas caminhadas diárias para o trabalho (nunca fui fã do metro londrino, nem grande crente em qualquer mecanismo de segurança no caos da hora de ponta). Não se pode deixar amedrontar a cidade que conviveu durante anos com o terrorismo do IRA. Estes ataques são mais ameaçadores porque mais incertos. Não há sirenes nem abrigos. Não há avisos telefónicos. Mas toda a vida é incerteza. Só a morte é certa. E como Shakespeare através do seu Júlio César explicava, um covarde morre todos os dias, um homem só morre uma vez. (Com a desvantagem, bem sei, de que dai a pouco César morre. Veja-se como piada, ou como simples aviso, de que falar assim tem custos.)

As minhas ideias e princípios não saem abaladas destas explosões. A tristeza e a preocupação são muitas. Mas abandonar a lucidez é deixar que o terror vença. Seria também pouco britânico. Segue-se uma análise - um pouco uma síntese do que por aqui fomos dizendo nas Cartas sobre este tema - em jeito de homenagem e fecho.

Há grupos islamistas radicais – a nebuloso chamada al-Qaida – com objectivos e métodos inaceitáveis que devem ser combatidos. Ninguém de bom senso nega isso. Mas claro que isso não dispensa que se pense a melhor forma de os combater. Como não desculpa que se faça de um bilião de muçulmanos, alguns dos quais provavelmente entre os mortos nos ataques de hoje, um bode expiatório fácil. Prender pessoas a eito por suspeitas vagas apenas acirra ressentimentos e entope a investigação com informações inúteis e inocentes injustiçados.

Não há atalhos para combater o terrorismo. Infelizmente. Há coisas que se podem e devem fazer em tempos de maior ameaça. Os serviços de informações devem poder, como aliás já sucede, seguir, escutar, observar e cruzar informações com mais latitude do que em tempos de paz. Mas algum tipo de mecanismo de controlo deste tipo de actividade deve continuara funcionar. Os julgamentos de terroristas devem poder ser reservados sempre que isso se justifique para proteger fontes e métodos. Mas as garantias fundamentais devem continuar a funcionar. Sacrificar a nossa liberdade em nome da eficiência no combate ao terrorismo é sacrificar o essencial em nome de um sentimento de segurança ilusório e populista.

Muito do realmente importante no combate ao terrorismo passa, aliás, por medidas, que por serem caras ou mexerem em grandes interesses, provocam hesitações e resistências, e de que se fala pouco. Por exemplo, a utilização de nova tecnologia e novos e, por vezes morosos, controlos para testar passageiros e mercadorias em portos, aeroportos ou estações. Ou o ataque aos paraísos fiscais e a outras formas, muitas delas legais, de ocultação de capitais, usadas pelas redes terroristas para financiar os seus ataques. Mas restringir radicalmente a liberdade de viajar, ou de comerciar, seria a morte da globalização e a vitória de grupos ferozmente «tribais», seguidores do mote antes sós que mal acompanhados, como a al-Qaida e seus imitadores.

E continuo a acreditar – ó escândalo – que o combate ao terrorismo beneficiaria muito com um esforço para integrar os marginais da sociedade internacional. Não significa isto que esteja convencido que se bin Ladin for tratado com jeitinho se vai tornar um pacifista; ou que se possa ou deva negociar com estes terroristas; ou que subscreva a tese ridícula de que os terroristas são pobres, excluídos no sentido mais corriqueiro. Sobretudo os seus chefes não o são. Quem tem fome não tem cabeça para organizar ou executar grande coisa, muito menos atentados deste calibre. Mas excluído não quer dizer apenas pobre ou analfabeto. Grande parte das pessoas do mundo muçulmano e de quase todos os países não-ocidentais sentem-se excluídos. Excluídos internamente por regimes autoritários e violentos. Mas também excluídos das grandes decisões que afectam o mundo. Democratizar – e desenvolver – é um passo importante para diminuir o campo de recrutamento e apoio a estes grupos. Mas também o é dar passos para integrar o melhor possível as comunidades imigrantes no Ocidente e criar uma sociedade internacional mais justa.

O discurso hegemónico de George W. Bush, de quem quer impor democracias à força, mas deixa claro que depois quem manda no mundo são os EUA, é a melhor garantia que cada vez mais árabes, muçulmanos, enfim todos os que não tiveram a suprema sorte de nascer norte-americanos, se sentirão cidadãos de segunda na sociedade global.

Há que não ter ilusões sobre a natureza deste inimigo: as redes de radicais jihadistas despreza o Ocidente por ser diferente, e arrenegam qualquer ideia de liberdade ou direitos humanos. Mas reduzir o combate ao terrorismo ou à guerrilha a um processo simplesmente policial e militar seria um erro. Não conheço nenhum caso – e estou a trabalhar precisamente no campo dos conflitos assimétricos – que tenha sido resolvido apenas assim.

Para se ser duro com o terrorismo não é preciso ser-se injusto. Para se ser forte contra o terrorismo não é preciso ser-se cego. Pelo contrário, quanto mais justo o combate mais legitimidade conquistará. Quanto mais inteligentemente essa luta for conduzido mais resultados obterá. O combate ao terrorismo é difícil. Será sempre. Mas só se não trairmos os nossos princípios teremos a certeza de que vale a pena continuar a lutar.

PS - Este é um post sem exemplo. Amanhã ou qualquer dia talvez explique porque não vou continuar com a escrever cartas de Londres. 
fevereiro 08, 2005
  Vida depois da morte... Este blogue acabou mesmo, mas eu sou daqueles que acreditam na vida depois da morte. Por isso, de além tumulo, queria primeiro agradecer aos que deram pela minha falta e simpaticamente o manifestaram, deixo-lhes aqui um abraço francófilo e londrino. Há quem goste de uma troca de ideias animada e prefira Londres a Paris. Queria ainda dizer umas palavrinhas antes de me ir embora de vez, qual fantasma que vagueia pela terra a incomodar os incautos antes de se acomodar a outras paragens.

Sobre as eleições no Iraque, reafirmar o essencial: não há democracia sem eleições (no plural), mas não há, evidentemente, democracia só com eleições (mesmo no plural). Vale a pena ler este este texto, Elections are not Democracy, de Fareed Zakaria na Newsweek. Para perceber que afinal os problemas e dúvidas que muitos em Portugal atribuem ao anti-americanismo estão no centro da discussão dos problemas do futuro do Iraque nos EUA. Importa ainda recordar, como Zakaria igualmente faz, que estas eleições foram acima de tudo uma vitória de Sistani e não de Bush II . Foi ele que obrigou os americanos, via mediação da ONU, a recuar nos planos que tinham feito, e deixar os iraquianos votar bem mais cedo do que tinha sido previsto! Resta saber, se, como por agora parece, Sistani é um islamista relativamente democrata, ou se vamos ter mais uma vez, one man, one vote, once...

Sobre o Irão, parece claro que aquilo que Bush II e companhia andam a dizer é muito parecido ao que disseram inicialmente sobre o Iraque. Mas pode ser que desta vez seja mesmo só bluff para impressionar os iranianos. É que há uma grande diferença entre 2003 e 2005: o Irão tem 70 milhões de habitantes, e os EUA deveriam ter percebido, entretanto, que não são omnipotentes. Na verdade, o exército americano está a enfrentar grandes dificuldades para sustentar sequer o nivel de esforco externo actual, como se explica neste editorial do Washington Post. Os iranianos provavelmente sabem, afinal conhecem bem o vizinho Iraque.

Sobre Santanta Lopes. Concretizou as minhas piores expectativas e ainda as excedeu. Uma completa personalização da politica. Uma campanha negativa na linha da pior escola norte-americana (a de George W. Bush). E uma tentativa de degradação do "debate" para os niveis do populismo adocicado latino-americano. Palavriado nunca lhe faltou. Mas vergonha ainda tem menos do que eu pensava. Pelo menos, escolheu bem o seu padrinho para a abertura da campanha: Alberto João Jardim.

Como podem ver ainda vou tendo umas coisas originais para dizer (ilusão de todo o escrevinhador). E se tivesse dúvidas sobre continuar na blogosfera, os inesperados ataques contra blogues de esquerda e de direita que parece que fazem sombra a um destacada militante do PSD, que andou anos e anos a pregar o rigor nos media mas agora regressou aos tempos da agit-prop pura e dura, teriam selado a minha decisão de continuar. Umas vezes m'espanto, outras m'avergonho.

Em suma, decidi a minha transferência em breve para uma equipa campeã, que generosamente me acolhe. Espero que compense as minhas previsiveis baixas de forma durante este ano de muitos trabalhos. Vemo-nos por lá...
 
janeiro 30, 2005
  London Town II Comecei há um ano a escrever este blogue. A ideia era substituir mails colectivos com novidades de Londres para os amigos. Falhei completamente nessa missão. Sobre se fui bem sucedido nessoutra tarefa, com tantas tradições estrangeiradas, de educar o povo português a partir de fora, serão vocês a ajuizar. Mas espero que não.

Esperançado de que o mundo esteja bem encaminho para a sua libertação final, e Portugal para os choques que precisa, vou suspender aqui esta minha actividade bloguística. Grato a todos os que tiveram a paciência de me aturar. Grato aos que se deram ao trabalho de me incluir na suas lista de links sabendo que eu não iria rebribuir por falta de tempo, cultura bloguística e cultura informática. Grato, sobretudo, aos que se deram ao trabalho de me fazer pensar melhor ao entrar em «polémicas» comigo. O PS fica portanto avisado de que estou disponível para integrar o próximo governo, mas apenas em posto apropriado (ministro adjunto e da blogosfera, que tal?)

Sobre Londres acabei por falar de menos, talvez. Não é uma cidade bonita no sentido vulgar do termo. Não é Paris. Não é Florença. Não é Lisboa. Mas é uma cidade de que se aprende a gostar, nas suas muitas surpresas. Sobretudo se se tiver a sorte de se viver num cantinho ajardinado e calmo da zona central. O pior de Londres é definitivamente o metro, embora com artistas de primeira classe: têm de passar uma audição e tudo para ter «o cartão».

Ao fim-de-semana, a caminho do trabalho numa das mais castiças ruas de Londres (Chancery Lane), desvio-me do trajecto mais curto. No ano passado fazia-o através da Tate Modern e além rio pela ponte pedonal até St. Paul’s. Agora frequentemente atravesso o British Museum, qual vasto mercado coberto de antiguidades, poiso por vezes na livraria da London Review of Books e pratico window-shopping na zona de Covent Garden (não o mercado propriamente dito que é uma zona entregue aos turistas). Desvios gratuitos numa cidade de extremos também no custo.

Quanto a conselhos «turísticos», deixo apenas dois para não vos cansar e para não me cansar. Atravessar a ponte pedonal a partir da estação de Charing Cross, sobretudo à noite e no verão e parar a meio para a vista mais bonita da cidade. Numa rua muito próxima da saída principal do Museu Britânico, contemplar e entrar na loja Smith & Sons, fachada típico do final século XIX que anuncia sticks & umbrellas. Querem coisa mais inglesa? Esclarecem ainda que alguns são realmente surpreendentes, "life preservers" com espadas e punhais escondidos.... Londres pode ser mais aventurosa do que parece (e não estou só a falar da comida).

Um lado bom de uma cidade tão cosmopolita é que mesmo que nem toda a gente se entenda, separados por versões diferentes da mesma língua, raramente alguém se preocupa com alguma coisa estranha. Apesar dos posters do 999 a apelarem para avisarmos a polícia se estranharmos alguma coisa. Como é que podemos estranhar alguma coisa numa cidade em que a estranheza é natural? Londres nas palavras do imortal poeta e publicitário, primeiro estranha-se, depois entranha-se. 
janeiro 29, 2005
  Eleições no Iraque São amanhã. Ao contrário de muitos críticos nunca me pareceu boa ideia adiar. (A posição crítica com a qual, apesar de tudo, estaria mais inclinado a concordar é esta de Larry Diamond, um dos maiores especialistas nestas questões. Um texto a que cheguei via Bloguíta – um blogue de serviço público, infelizmente em risco de desaparecer.)

Adiar significaria entregar o ouro ao bandido. Ou seja, entregar o controlo do processo político aos que optarem pela violência. Nesse sentido seria também a melhor garantia do perpetuar da presença de tropas estrangeiras. Mais, um adiamento, sem mais, seria inaceitável para a maioria xiita, e poderia levá-la a ver na luta armada a única forma de chegar ao poder. Isso criaria uma confusão ainda maior.

Mas as eleições são apenas um primeiro e ténue passo, que provavelmente será salpicado de muito sangue fresco. Não vão resolver a questão central da violência. Mas na medida em que a luta contra os guerrilheiros tem uma dimensão política susceptível de saída negocial, tem a ver com as garantias que a nova constituição vai dar aos sunitas (e curdos e outras minorias). Ela será escrita pelo parlamento agora eleito, e que será, mas seria sempre, dominado por xiitas. Se os xiitas cederem à tentação de querer tudo, podem acabar por comprometer a unidade do país. Mas dada a moderação de que têm dado mostras – inclusive convidando alguns sunitas para as «suas» listas – tal parece pouco provável. Mas para haver paz, xiitas e (alguns lideres) sunitas vão ter de chegar a algum acordo. E cheira-me que serão os estrangeiros – EUA e jihadistas – a pagar o preço.

Esta eleição não vai garantir por si só – longe disso! – que o Iraque virá a ter um futuro democrático. Mas é pelo menos um passo na direcção certa. E por isso muitos iraquianos tragicamente vão arriscar a vida para votar. A verdade é que o mundo vive uma epidemia democrática. Cada vez mais países conseguem ter um regime em que pelo menos periodicamente as pessoas têm uma palavra a dizer sobre quem os governa. Os que não gozam desse direito cada vez mais sabem disso, e perguntam: porque não eu?

Há uma lição nisto para nós também. Se alguma coisa está mal em Portugal, e todos sabemos a resposta, façamos por mudar. Quem quiser pode mesmo criar um novo partido, ou uma associação se não gostam de partidos. Mas não façam figura de palhaços a pintar cartazes de quem ao menos se dá ao trabalho de tentar fazer com que a nossa democracia funcione. São capazes de melhor e diferente? Mostrem como, pelo menos com palavras!

PS - Há uma quantidade de textos a discutir vários cenários no site do Council on Foreign Relations. E uma entrevista bem interessante precisamente sobre alguns pontos que aqui discutimos.
 
  Duas prendas americanas Se ainda não leram nada sobre questões internacionais este ano, se não tencionam ler nada este ano sobre questões internacionais, vão a correr ler este texto fabuloso de Tony Judt na New York Review. Como é de regra a escrita é excelente. O texto é uma síntese brilhante, repleta de dados e reflexões, sobre o problema central a que tantas vezes nos temos vindo a referir da comparação e da relação entre os EUA e a Europa. A discussão começa com uma análise da diferença entre o café expresso e o café americano. E Portugal até aparece (precisamente a respeito de bebés)...

Termina assim
Globalization is about the disappearance of boundaries—cultural and economic boundaries, physical boundaries, linguistic boundaries—and the challenge of organizing our world in their absence. In the words of Jean-Marie Guéhenno, the UN's director of peacekeeping operations: "Having lost the comfort of our geographical boundaries, we must in effect rediscover what creates the bond between humans that constitute a community."
To their own surprise and occasional consternation, Europeans have begun to do this: to create a bond between human beings that transcends older boundaries and to make out of these new institutional forms something that really is a community. They don't always do it very well and there is still considerable nostalgia in certain quarters for those old frontier posts. But something is better than nothing: and nothing is just what we shall be left with if the fragile international accords, treaties, agencies, laws, and institutions that we have erected since 1945 are allowed to rot and decline—or, worse, are deliberately brought low. As things now stand, boundary-breaking and community-making is something that Europeans are doing better than anyone else. The United States, trapped once again in what Tocqueville called its "perpetual utterance of self-applause," isn't even trying.


Vale também muito a pena ler na Review um artigo daquele que é provavelmente o melhor repórter actual em língua inglesa, Mark Danner, sobre a reeleição de Bush. Fica-se realmente a perceber a atmosfera... de medo, alimentado pela imprensa populista de direita, em que teve lugar.

 
janeiro 27, 2005
  Auschwitz e o Mercador de Veneza Para lembrar Auschwitz e reanimar o espírito foi ver The Merchant of Venice, o filme... Como seria de esperar, e para citar uma amiga judia meio húngara meio canadiana, confirmei que a peça é anti-semita... No final o judeu é castigado.
Na verdade, saber exactamente o que Shakespeare queria e podia dizer nada tem de simples.
A reflexão sobre a rigidez da Lei face às virtudes da Misericórdia que enreda o enredo, pode ser lido como uma crítica ao judaísmo face ao cristianismo, certamente era essa a leitura evidente, mas podia igualmente ou principalmente visar o protestantismo ou o despotismo legalista. Afinal Shakeaspeare era, senão um católico clandestino (seria difícil garantir isso, não tendo ele sido executado), pelo menos de uma família e região dessa inclinação. Do que podemos estar certos é que percebe bem o perseguido... Como sempre sucede com o grande mestre, independentemente dos detalhes e floreados da urdidura chega bem fundo na nossa humanal condição. Se alguém quiser perceber é só olhar e ver, escutar e ouvir.
Assim grita Shylock século após século: Thou callest me a dog before thou hadst a cause. But since I am dog bewar my fangs!
Ou ainda: He has disgraced me and hindred me half a million; laughed at my losses, mocked at my gains, scorned my nation … And what's his reason? I am a Jew. Hath not a Jew eyes? Hath not a Jew hands, organs, dimensions, senses, affections, passions, fed with the same food, hurt with the same weapons, subject to the same diseases, healed by the same means, warmed and cooled by the same winter and summer, as a Christian is? If you prick us, do we not bleed? If you tickle us, do we not laugh? If you poison us, do we not die?

 
janeiro 26, 2005
  O mestre e os mestres Lembraram-me num blogue de que me esqueci, que 2004 passou sem ler nenhuma das duas novelas sobre um dos meus mestres preferidos, not least por causa da pequena estória chamada precisamente The Lesson of the Master... A ironia desta aplica-se bem ao facto de que dois dos melhores escritores contemporâneos destas paragens coincidentemente debruçaram-se sobre Henry James na mesma altura: Colm Toibin com The Master & David Lodge com Author, Author. Mais, se o contraste entre os louvores da crítica e as vantagens do dinheiro e da fama das grandes plateias e bestsellers foi um dos motivos de interesse do próprio Henry James e é tema tratado nestas duas novelas, Toibin foi aparentemente o mais aclamado pela crítica e o mais comprado!

Estou certo que ambos foram, em todo o caso, fiéis a estas palavras de mestre James: 'The only obligation to which in advance we may hold a novel without incurring the accusation of being arbitrary, is that it be interesting.'

PS - A coisa mais quente, literariamente falando, por estas bandas parece ser o nova novela de Ian McEwan. Sou um grande admirador do dito. Acho que, tal como Scorcese ou Allen no cinema, mesmo quando não é muito bom, vale a pena... Esta Saturday nasceu desse Sábado invernil de 2003, dia da gigantesca manif contra a guerra aqui em Londres. Aquele dia tão fora do comum merecia ser trabalhado por um autor de calibre.
 
  Dream on America! L'Europe arrive! O Luciano Amaral descreve a União Europeia como uma nova União Soviética. Por uns momentos, quando falava de uma nova União Soviética pensei ainda que ele iria falar sobre uma potência governado por um grupo de ideólogos determinados a dominar o mundo para o salvar, a libertá-lo da tirania pela força, com um deficit crescente por causa dos gastos militares, envolvidos numa aventura sangrenta e impopular, enfim, de um país de pleno emprego mas más condições de trabalho, de um estado cujos indicadores económicos não são exactamente muito crediveis...

Mas não, o Luciano decidiu falar sobre a União Europeia, que tem, realmente, uma coisa em comum com a União Soviética... Para uma outra leitura sobre a União Europeia e os EUA , mais fundamentada na realidade, recomendo a leitura deste excelente texto no último número da frequentemente (euro)céptica Newsweek – aliás as revistas e jornais ingleses e americanos têm passado as últimas décadas a prever o fim próximo da CEE ou da União Europeia, se acabarem por acertar não foi por falta de tentativas... Neste artigo explica-se que 5 dos 10 países mais produtivos do mundo (inclusive o n. 1) fazem parte da UE. Que em média um francês vive mais c. 4 anos do que um americano. Que o sistema de saúde dos EUA é o 37 melhor do mundo – uma média claro, há muito hospital mau – empatado com Cuba. Que há 45 milhões de americanos sem seguro de saúde. Que os EUA são o país da OCDE com mais alta taxa de mortalidade infantil. Etc. etc. O autor é um dos melhores – e não acrítico – estudiosos da UE nos EUA, Andrew Moracvsic. O título «Dream on, America» aponta para o facto da Europa ser vista cada vez mais como um modelo a nivel internacional, mais que os EUA. E cita um artigo recente de Tony Giddens no New Statesmen cuja afirmação central é bem pertinente para Portugal: “Nordic social democracy remains robust, not because it has resisted reform, but because it has embraced it.” Amen!
 
Este é um blog liberal, cheio de convicções e à procura de patrocínios. Temas? As coisas que realmente (me) interessam. Procuramos, acima de tudo, seguir as máximas do nosso João das Regras «Olhai, porém vede!» e do imortal bispo inglês Joseph Butler, «Things and actions are what they are, and the consequences of them will be what they will be: why then should we desire to be deceived?» Divirtam-se, que nós também. Comentários: BrunoCardosoReis@sapo.pt

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