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CARTAS DE LONDRES
junho 30, 2004
  A conspiração europeia O Acidental ficou escandalizado com o facto de tanta gente ver Vitorino como um candidato promissor a presidente da comissão e Durão ser apenas visto como o mínimo denominador comum. Eu acho que mais que um escândalo, é um mistério. Pois não vi nenhuma diário de peso na Europa, ou seja mais à direita ou seja mais à esquerda, que dissesse outra coisa. Deve ser uma conspiração europeia...

PS O que não quer dizer que não faça um bom trabalho, embora seja um lugar difícil. Mas criar ilusões sobre como e porque é que Durão chegou a presidente da comissão é que não vai ajudar de certeza.
 
  Senão agora, quando? Sampaio parece ter reservas em relação a usar a prerrogativa de dissolução do parlamento e convocação de eleições antecipadas. O que não custa a perceber. Todo o político responsável as teria. As eleições têm custos, sobretudo na paralisia nas decisões no período que antecede a eleição e com a necessária adaptação do novo governo. E é claro que se podem citar muitos exemplos de mudança de governos sem dissolução. Existem países europeus onde esta faculdade nem sequer existe legalmente – em regimes parlamentares ou de chanceler. Nalguns casos o sistema partidário é muito fragmentado e, portanto, as possibilidades de se alcançar uma legitimação clara para a alternância nas urnas são reduzidos. Os governos de coligação são a prática habitual.
Todos os sistemas têm vantagens de desvatagens, mas em Portugal e neste momento a minha questão é a seguinte. Pode o Presidente não dissolver o parlamento agora sem criar um precedente que irá limitar no futuro o exercício deste poder constitucional? Se quando o principal partido de governo mostra divisões internas, se havendo outras eleições poucas semanas antes com resultados claramente desfavoráveis ao governo, se o primeiro-ministro se demite, se a oposição em peso pede eleições, se com tudo isto não se convocam eleições antecipadas, então quando é que será possível ao presidente convocar eleições antecipadas?

 
junho 29, 2004
  Crise Política em Curso e Vizinhos Vale a pena ler esta análise desapaixonada da crise actual. Não é pelo facto de o Fernando Albino ser meu vizinho - mora a poucos quilómetros daqui - mas porque está bem esgalhada. Mas eu diria mesmo mais. Há gente de peso no PSD para quem a questão não se resume a esquerda e direita. Andam todos atrás do poder? Será mesmo que quando Pacheco Pereira diz - o país é mais importante que o partido, não é? Não era Sá Carneiro que o dizia? - é porque quer ser primeiro-ministro?
O Paulo Gorjão não é um vizinho mas apesar de tudo Lisboa não é assim tão longe... Ele aponta para uma manipulação óbvia da manifestação por ELEIÇÕES JÁ! Para mim, neste caso Lisboa não é assim tão perto, e é menos óbvio. Poderá ser pelo suspeito do costume, o Bloco? Mas mesmo que seja verdade, isso não lhe retira legitimidade. Verdade, verdadinha é que desde o berço que estamos todos a manipular - quem não chora não m'ama. Os sinais de Sampaio são irrelevantes para quem esta é uma questão de princípio. E para parafrasear o velho Burke, se as únicas causas justas fossem as que tivessem advogados exemplares, não havia causas justas... Mas partilho a parte mais importante da análise, há cada vez menos espaço para que o presidente nomeie Santana Lopes! Quanto ao meu entusiasmo por eleições anticipadas, ele é nulo. São meses em que tudo fica adiado mais uma vez. Mas não vejo outra solução. Nem me parece que Santana em São Bento garantisse mais estabilidade (para não falar em melhor governação)... 
  Iraque, descolonização exemplar? Precedentes para este tipo de saída precepitada e antecipada, só me ocorrem algumas descolonizações exemplares. As desastrosas saídas dos britânicos da Palestina em 1948, e de Aden em 1967. Mas também, a antecipação da independência da Malásia, em 1957, com a continuação da presença de tropas britânicas. Esperemos que a maior semelhança com este último caso faça advinhar um final relativamente feliz embora não exactamente liberal e democrático.
De facto, o Iraque recuperou hoje formalmente a sua soberania, mas guardada por soldados norte-americanos. A antecipação da transferência de soberania é uma manobra hábil. E é a melhor solução possível nesta altura do campeonato. Mas alguém pode dizer que era isto que Bush II e Blair tinha em mente quando invadiram o Iraque? Claro que isso se torna cada vez mais secundário. Mas é evidente a grande tensão no Iraque entre criar um poder forte capaz de eliminar a insurreição e a lógica de abertura de uma democratização real. Isso não se resolve com mais tropas ou de mais paíes.
As campanhas de contra-guerrilha são, aliás, evitadas por todos os exércitos, sempre que podem fazê-lo, e com boas razões. É por isso que treinar o exército iraquiano é tão importante. Por isso, e porque há que perceber a experiência muito particular do imperialismo no Mundo Árabe. Um colonialismo disfarçado, com soberania de fachada mas controlo político, económico e militar efectiva das potências ocidentais. Ter tropas num grande país árabe como o Iraque anos a fio, não é, por isso, a mesma coisa do que ter tropas na Alemanha. Lembram-se das tropas americanas na Arábia Saudita e do custo que isso teve? Mas não estaremos assim simplesmente a ajudar a afiar a faca que cortará mais uma vez a esperança de liberdade no Iraque? 
junho 28, 2004
  Crise Política em Curso Ideia do Paulo Querido para todos os que queiram participar. A blogesfera ao serviço do debate e da troca de ideias, que ainda parece incomodar tanta gente com complexo de génio solitário... 
  Férias? Thomas Friedman vai de férias por três meses para terminar um livro. E como dizia o outro, eu próprio tenho uma tese para terminar, e também não me sinto lá muito bem...  
  Santana quase me descansava quanto a ELEIÇÕES JÁ! Santana Lopes deu uma conferência de imprensa ontem, falando em nome do PSD sobre a situação actual. O facto de ser ele o escolhido era significativo e inspirador de cuidados. Mas quase ficava descansado, quando ele disse que o PSD ia respeitar a: ‘vontade popular expressa nas últimas eleições [LONGO SILÊNCIO] legislativas.’ Quase que acertou, não foi? 
  Durão na Comissão : reacção inglesa A imprensa inglesa tem alguns problems com o nome do nosso primeiro (o Sun legenda um foto com Baroso, e o Times chama-lhe Barosso num dos títulos).
Blair e Straw parecem muito contentes, o primeiro diz que Barroso fará um lugar excepcional e o amigo Jack diz que recebe a nomeação com 'um sorriso nos lábios'. O Sun que costuma saber estas coisa diz que PM's Pal gets top EU job. Mas será isto um bom sinal? Afinal, a Inglaterra parece estar de malas aviadas... Quanto ao Independent refere que a Espanha tinha pouco espaço de manobra para vetar o nome, como aparentemente queria, se quisesse manter Solana no seu posto. O Guardian faz talvez o ponto mais importante, acha pouco prático que o PSD se chame PSD, afinal é de direita, caramba! Pode ser que com o Santana no leme volte a ser PPD ou até quem sabe só PP...
Todos são unânimes em que Durão foi o mínimo denominador comum, a forma de sair desta embrulhada. E notam que é um ex-maoísta que terminou na direita.

Eis alguns perfis e conselhos:
Do Times num editorial intitulado "Portugal ganhou outra vez" (é para verem que não somos só nós):
Senhor Durão Barroso is not a bad candidate by the standards of Romano Prodi. There were stronger possibilities such as Mr Ahern himself and Javier Solana [...]
He should be deemed, by the EU yardsstick, a moderniser and is thus to be welcomed in Brussels. Better him than an anonymous individual, probably from Luxembourg [sic][...]
[Parece um grande elogio, mas a seguir dizem sobre Prodi] Rarely has a public figure been so crass and irresponsible. The available evidence suggests that Senhor Durão Barroso is a more sophisticated and subtle soul and will be a smoother operator. He must, nevertheless, genuinely renounce Portuguese politics and resist any temptation to dabble in it. [Um bom conselho, sem dúvida]
He then has to draw up a business plan for his new post and persuade others to endorse it. The arrangements of the Commission and the methods by which money is directed and spent have long been a scandal. [...] Senhor Durão Barroso needs to take Brussels back to the drawing board. With as much outside advice as he can muster, he should submit a wholly novel blueprint for his organisation to heads of governments within six months. [Pois...]


Do Independent:
He satisfied one key criterion laid down by France: that the next President of the European Commission should come from a country that takes part in all the main EU initiatives, including the euro. Mr Barroso also comes from the centre-right, meeting a separate demand that the next President should be appointed from the political wing that emerged victorious in the European elections.
If he does get the post, the multilingual lawyer will take on the highest-profile international post ever assumed by a Portuguese citizen. Nevertheless, he will have to work hard to dispel the impression that he emerged as the lowest common denominator. The unassuming Mr Barroso has rarely made an impression so far on the European stage. [Bem, alguma deve ter feito, afinal lembraram-se dele e não de um anónimo do Luxemburgo]


Do Guardian:
Jose Manuel Durao Barroso, the Portuguese prime minister who has emerged as the new European commission chief, is a compromise figure poised to move from obscurity in one of the EU's smaller countries [também não exageremos!] to the biggest job in Europe.
[...] Mr Barroso is not seen as a European visionary [Fátima ma no troppo], either of the federalist or the nationalist variety. [...] Mr Barroso will need the qualities he is often credited with: a thick skin and the doggedness acquired during his political journey from Maoist student activist opposing the Salazar dictatorship in the early 1970s to conservative prime minister. [...] The view in Brussels is that he will champion the smaller members, which often feel threatened by the dominance of France and Germany [...] But with the biggest members anxious to cut their budget contributions, he may have trouble maintaining his opposition to capping EU spending, of which Portugal is a big beneficiary. [Lá se vai a massa] [...] the commission has wilted under the lacklustre leadership of Romano Prodi, and Mr Barroso is not credited with having any special talent or vision of how to run the union's demoralised executive and manage its often troubled relations with the member states.


Ou seja, não vai ser fácil. Mas há que ter confiança e garra como a selecção! A propósito, juntava um conselho meu: não assistir ao vivo aos próximos jogos (vamos ter confiança!) de Portugal no Euro! Finalmente um cargo importante, só falta a taça e ELEIÇÕES JÁ! 
junho 27, 2004
  Revista para o verão É tempo de comprar revistas para levar para a praia ou para a explanada. Nada melhor do que a Prospect 100. Aquisição automática de estatuto de intelectual liberal, de gostos cosmopolitas e variados. Prémio adicional, um excelente CD comemorativo com uma selecção dos melhores artigos desta revista verdadeiramente ecuménica. 
  O dito cujo e os outros Quanto a Santana Lopes, não há grande coisa a dizer, pois não? Leiam o santanete de serviço no Blasfémias que ficam esclarecidos! Mas lá que se ele for nomeado primeiro-ministro as tensões e dificuldades do governo se vão avolumar, pelo menos de início, lá isso... Se for ele o candidato do PSD a primeiro-ministro às eleições legislativas podemos contar que venham a ser quase tão polarizadas (e personalizadas) como as eleições americanas.
Quanto ao PS e ao resto da esquerda é evidente que as legislativas não são as europeias. Em termos de interesses eleitorais, desses partidos, provavelmente dois anos de Santana Lopes como primeiro-ministro nem seriam maus. Mas a questão das ELEIÇÕES JÁ, para mim é uma questão de princípio. E cabe aos partidos de esquerda começarem a preocupar-se com apresentar programas reformistas corajosos que o país bem precisa de mudança, em campos como o ordernamento e ambiente, a integração dos imigrantes, as universidades e investigação, a promoção e defesa de novas empresas, a reforma da gestão pública. 
junho 26, 2004
  A selecção, a demissão e... ELEIÇÕES JÁ!!! A selecção do primeiro-ministro é precedida de consulta aos partidos com assento no parlamento, diz a constituição. Claro! Mas há o 'pormenor' de que o presidente da república não é obrigado a aceitar esse conselho. Que vai de par com a faculdade presidencial de dissolver o Parlamento quando entender que o deve fazer. O critério fundamental deve ser, evidentemente, se o governo deixou de funcionar e se o povo (a gente) apoio o governo ou não. Afinal estamos numa democracia não numa partidocracia (embora às vezes...). A estabilidade não é o valor supremo.
Fala-se por aí do 'precedente' Balsemão depois da morte de Sá Carneiro. Mas não haverá, talvez, digo eu, algo de excepcional nesse caso (Camarate)? Se bem me lembro, não só o primeiro-ministro morreu involuntariamente, como o presidente Eanes tinha deixado claro na campanha que não iria usar o argumento da maioria presidencial para demitir o governo.
Porque é que não falam na decisão de Mário Soares convocar eleições antecipadas após a queda do governo minoritário de Cavaco Silva? Os partidos com maioria no Parlamento - o PS e o PRD - estavam dispostos a viabilizar um novo governo. No entanto, o presidente entendeu que ele não contaria com o apoio da população. Com base na sua intuição (não havia eleições europeias para ajudar), decidiu convocar novas eleições. O PSD na altura deixou claro que não admitia outra coisa. De novo o PSD e, honra lhe seja, o PS, deixaram claro que queriam eleições após a demissão de Guterres. É verdade que Sampaio teria posto a hipótese de nomear um novo governo do PS? Não sei. Só sei que não o fez. Fez mal? Se não fez, o que é mudou entretanto?
Não sei o que é presidente Sampaio vai decidir. Mas uma coisa é certa, quem se pode manifestar sem autorização do governo civil pela selecção também se podem manifestar por Eleições Já!!! 
  Robbed! Por uma vez, uma manchete do Sun que é verdade. Mas também quem é que se dava ao trabalho de comprar lixo deste? E não é que a foto da página três é linda! Não, não estou a falar dos ‘elegantes’ ‘modelos’ do costume. Desta vez, vejam lá, a página três do Sun de ontem foi dedicada a fotos do jogo! Mais uma instituição inglesa em ruínas!!! E burros como eles só, colocam uma foto enorme do ‘golo’ do Campbell em que se vê claramente um braço em cima do Ricardo!!! Suponho que este lixo também se venda aí, tentem arranjar um que vale a pena. Entretanto a BBC lá reparou que a imprensa internacional tinha um tom um bocadinho diferente da inglesa e resolveu dar ao árbitro oportunidade de se defender.

PS O André está a ficar cada vez melhor. Mas como se pode ver aqui, pelo menos um jornal inglês (o Times) lá encontrou forças para reconhecer que a vitória portuguesa foi merecida. 
junho 25, 2004
  O Favorito? Parece que a possiblidade de Durão ascender à presidência da comissão tem pernas para andar. Só não vejo como é que o presidente da república poderá nomear um primeiro-ministro escolhido pelo PSD tendo em conta os resultados das europeias... Mas seria um real sacrifício pela pátria arriscar eleições gerais neste momento para alcançar esse lugar.
Eis uma selecção da notícia do favoritismo de Durão Barroso no Financial Times:

José Manuel Durão Barroso, the Portuguese prime minister, on Thursday appeared to be the latest name gaining ground in the race to become president of the European Commission.
The European Union's Irish presidency said yesterday there was no frontrunner, but the 48-year-old is winning support from a number of smaller member states and from Europe's centre-right establishment [sinal de que alguma capacidade diplomática tem].
He is also likely to win British support, but his role during the Iraq war means he is opposed by the new socialist government in Spain [aquelas declarações sobre o Zapatero...]. France and Germany are considering their positions.

French officials joke that Mr Barroso's main role at the summit [Açores de volta à ribalta] was to organise the catering, and that in most pictures of the event it is only possible to see his hand. [Mais um sinal de que os franceses são quase tão maus nas mesuras diplomáticas como os norte-americanos, ma se non e vero...]
"We have nothing against Barroso," said one. "He speaks really good French and he meets our criteria that the Commission president should come from a country playing a full role in all the EU's policies." [E também toca piano? Mais sinais da sua abilidade diplomática]

The centre-right prime minister, who studied in Geneva and was visiting professor at Georgetown University in the US, is best known for running a tight economic policy since winning power in Portugal in 2002. [Será que ainda vão buscar a Manuela Ferreira Leite?]
Mr Barroso's low-profile style might appeal to some EU leaders, who would prefer the president of the European Commission to be competent but not a direct threat to their own authority. [Esta é a parte que me preocupa...]
 
  O fairplay inglês volta a atacar! Duas horas cercados por hooligans!! A violent mob of England supporters besieged a Portuguese-run pub last night after their team's defeat on penalties in Euro 2004.

Police had to escort a group of Portuguese fans, including children, to safety after they were trapped in the Red Lion hotel in Thetford, Norfolk for more than two hours in what officers described as a "terrifying" ordeal.

Witnesses said that a mixed group of supporters watched the game peacefully inside the pub. But within minutes of England's defeat on penalties, a hostile crowd of around 200 people gathered outside and tried to enter the pub, hurling stones and bottles. Portuguese fans inside barricaded the pub doors with tables.

Sergio Queiroz, the pub manager, said: "It was terrible, there was blood everywhere and people were frightened for their lives. These English fans just wanted to attack us because they had lost the match."

"Certainly for the people inside the pub I am sure it was terrifying," Mr Brown [chefe da polícia] said. "We did all we could to contain the situation and protect them until the crowd could be dispersed."

Several people were arrested in other disturbances across England last night. On the Channel Island of Jersey, police reportedly used CS gas to disperse a crowd of 1,500 supporters who taunted Portuguese fans.
 
  Inglaterra KO e Londres festeja! Sempre comemos os bifes. Mas foram duros de roer! Mas ainda assim soube bem (embora bom, bom, era o 2 a 1). Como tenho dito sempre e espero continuar a dizer, com todas as falhas quem é que pode não gostar de uma selecção quem luta assim!!
Festa incrível em Stockwell, a zona de Londres merecidamente apelidada de "Little Portugal" e centrada, claro, em cafés, snacks, restaurantes - onde há comida e bebida, há portugueses. Tivemos direito a polícia e tudo para controlar a multidão! Ok não erámos aos milhares, mas como disse o mister Scholari, um português faz barulho por 40.000 ingleses!
Com a excepção, que muito nos honra, do Sun, que devolveu o dinheiro das apostas num concurso sobre quem vai ganhar o Euro porque os leitores foram roubados por um banqueiro suíço!; até os tabelóides piam baixinho, mas não resistem a falar nos fãs desiludidos com o suposto golo de Campbell... Onde é que eu já ouvi esta conversa de ganhar de cabeça erguida? [Hoje o Mail e o Mirror juntam-se à maralha a gritar robbed! Pelo menos parece que afinal não vão ganhar o Euro com uma perna às costas!]
A imprensa internacional que vi, ou dá a falta como falta, ou nem sequer liga à questão e dá todo o relevo às emoções e qualidade do jogo e à garra portuguesa.
O L'Equipe fala de KO português
O Corriere della Sera fala de uma partita belissima
O El Mundo fala em partidazo e num duelo emocional como pocos E no espaço dedicado a votar quem mereceu passar o resultado é 90% a favor de Portugal.
A BBC, que deu cobertura com os seus comentadores 'isentos' à ideia do roubo (até o Peter Reid, que lá reconheceu que não jogaram bem, mas mereciam ganhar à mesma!), pelos vistos não convence completamente sequer os seus leitores, com um inquérito a dar 49% a dizerem que Portugal mereceu passar (mais 16% a culparem as óbvias falhas nos penalties).
Enfim, acho que o Times resume bem a questão duma forma desapaixonada e isenta, que nos vai fazendo acreditar que ainda sobra qualquer coisa do fairplay inglês:
If losing on penalties was cruel for England, it would have been crueler still had Portugal been vanquished. 
junho 24, 2004
  O princípio do fim? Bush e o TPI No meio da confusão sangrenta no Iraque, e da prioridade ao futebol, convém não deixar passar despercebido o facto de o governo dos EUA ter sido forçados a desistir da isenção da jurisdição do Tribunal Penal Internacional para as suas tropas. Sem efeitos práticos? Talvez! Mas querem exemplo maior do total descrédito da actual Administração norte-americana? Querem melhor exemplo da falência da política externa de Bush?

PS Se isto não é uma derrota, João Miranda, o que é que é uma derrota? 
  Inglaterra Portugal O bifes estão confiantes, mas com um nome destes será que podem estar realmente seguros que não os comemos? Parece que sim. A confiança é esmagadora - ouve-se nas ruas, nos cafés, nos pubs - e estende-se mesmo a alguns dos entendidos dados a comentários da bola. Suponho que nisso sejam parecidos com os portugueses, que ora condenam ora idealizam a selecção. Aliás o único aspecto em que os ingleses são saudavelmente sulistas é no amor ao futebol.
Mas para mim e para alguns dos ditos especialista (por exemplo o Peter Reid) não parece que sejam favas contadas (ou para Eriksson). A Inglaterra não está a jogar excepcionalmente, com excepção do Rooney. E certamente não ao nível da defesa, em que Portugal leva vantagem - daí eu levar à conta de mais do que jogo psicológico as ameaças de Cole a Ronaldo. Têm mais pedigree? Certo, mas remoto (remember Eindhoven?). E perderam agora com a França, que também não está a jogar excepcionalmente. Se Portugal jogar concentrado acho que as hipóteses são pelo menos, metade metade, fifty fifty. E afinal este jogo é menos ingrato do que os anteriores e com uma equipa que não pode (e não tem sabido) jogar só à defesa. Táctica? Marcar Rooney e marcar golos. E até acho que se jogarmos bem e ganharmos não vai haver porrada, pelo menos aí...

PS E já agora se estão tão confiantes porque é falam nos gregos? 
  Europa - tempo de pensar nas coisas importantes Para equilibrar aqui fica um bom exemplo da face boa da Inglaterra, não vende tantos jornais, mas no referendo sobre a constituição vamos ver quem tem mais peso... Porque é que será que isto não me soa muito bem?
Enfim, nos entretantos, fica aqui um artigo de Timothy Garton Ash a apelar a que os europeus se deixem de histórias, e percebam que a União Europeia como instituição não é assim tão importante, mas é essencial como meio de conjugação de esforços para defenderem os seus interesses e os seus valores no Mundo globalizado e perigoso em que vivemos. Como ele diz:
By adopting this constitution, Europe will only reach the starting line for the big race


 
  Hooligans!!? Please! We are English! Aqui fica mais uma contribuição do Sun para o espírito de fairplay e de harmonia no desporto... Para quem não percebe como é que vem tanto selvagem de um país de cavalheiros tão preocupados com a violência no desporto:

Portugal face defeet
[Foto dos pés de Rooney]
WATCH out Portugal — these feet are going to walk all over you.

Wayne Rooney is ready to unleash his weapons of mass destruction on the hosts in Lisbon tonight.
 
junho 23, 2004
  Festa no Lux, pint no Knights Templar Pois é, muitos parabéns à Causa Nossa pela excelente ideia da festa no Lux. Fico à espera, cheio de inveja neste Londres chuvoso, das fotos do nosso blogojet ou será setoblogue? Parabéns aos vencedores. Dentro de um espírito de crítica construtiva ficam aqui algumas sugestões para o próximo ano:
1) Bolsas para que os bloggers que estão no estrangeiro se puderem deslocar ao evento.
2) Faz falta um prémio para o melhor blogue das comunidades espalhadas pelo mundo. Não esqueçam dos emigrantes!

E às mentes maliciosas que pensam que são preocupações mesquinhas, digo desde já que conheço pelo menos mais três ou quatro pessoas que poderiam beneficiar com estas mudanças!
Finalmente, devo dizer que apesar de com menos publicidade também nós aqui em Londres resolvemos seguir o exemplo e fizemos o nosso encontro dos bloggers portugueses na cidade à beira Tamisa, num belo pub templário (em homenagem à minha cidade natal), em Chancery Lane. Quanto a balanços, obrigado Fernando por teres aparecido, gostei muito daqueles dois dedos de conversa, com uma pint de Stella a acompanhar, e por teres trazido o conselheiro sentimental. Tenho pena João que não tenhas podido vir, mas pelo menos no próximo encontro temos a garantia de haver um aumento substancial do número de participantes, de dois para três! 
junho 22, 2004
  Patten e Durão A confiar no Público o PM passou a favorito para presidir à Comissão Europeia. A confiar na BBC é um dos nomes possíveis. As razões para ser um dos candidatos parecem lógicas: ser de um país pequeno, pró-americano q.b., e que faz parte do núcleo duro da União. E a verdade é que espero que se concretize. O problema será mesmo gerir com mão firme a Comissão, que é um campo mais minado do o de que qualquer governo de coligação. E há ainda o pequeno pormenor de encontrar um sucessor em Portugal. Talvez o melhor fosse mesmo o António Vitorino (troca por troca).
Quanto a Patten. Concordo inteiramente com o meu amigo Pedro Oliveira (em boa hora de regresso ao Barnabé) de que ele seria uma excelente escolha. Mas há um argumento de Chirac (e de Schroeder) que tem peso. Ele faz parte de um país que não está na União de corpo inteiro (eu que o diga). Claro que se pode ponderar que ele seria um bom porta-voz para conquistar os ingleses. Mas duvido que resulte, pelo menos pelo que se viu até agora (nada). E de qualquer forma será que merecem ser recompensados pelas suas hesitações constantes? Então porque iriam mudar? Seja como for, como princípio parece-me bem: quem não arrisca não petisca! Só tenho realmente pena que seja o Chris Patten a pagar as favas. 
  Blasfémias de menos O João Miranda da Blasfémias, diz, num tom de poucos amigos que: Entretanto fico à espera que o Adufe responda às questões que lhe coloquei.

Eu percebo que ele ande muito ocupado com esta polémica olímpica (ou será olimpiana?) do dumping. Mas eu estou à espera de uma resposta dele a duas cartinhas minhas vai para uma semana... Será mesmo que o peso da minha argumentação esmagou? Será mesmo que ele aderiu à sociedade dos amigos da ONU? Ou será só a demora do costume nos correios ingleses? 
junho 21, 2004
  Clinton, Sharon, Arafat, Haaretz e o muro Bill Clinton chamou hoje a atenção numa entrevista no Guardian para não se poder deixar mão livre a Sharon. Que aparentemente quer trocar a retirada de Gaza pela consolidação da expansão na Margem Ocidental. Mas já há uns dias o Haaretz tinha chamado a atenção para este problema.
The constant, creeping annexation by Israel of land in the West Bank under the pretext of building the separation fence also constitutes a unilateral determination of the border, which contradicts the goal of reaching an agreement by mutual consent.
The idea of a separation fence enjoys broad public support because it promises to reduce the number of terror attacks inside Israel. But Prime Minister Ariel Sharon's government distorted this basic intention and turned the fence into a tool of ideology, thereby sparking numerous international denunciations. Now that Sharon has announced his plan for a unilateral withdrawal from the Gaza Strip, it appears that he is trying to "compensate" for the loss of Gaza by a rapid annexation of parts of the West Bank. He thereby confirms the suspicion that the withdrawal from Gaza is aimed not at facilitating a comprehensive peace agreement, but at unilaterally legitimizing the annexation of parts of the West Bank.

Outro sinal de coragem deste excelente jornal israelita, uma entrevista a Arafat - A Jewish State? Definitely. Ele está em cada vez pior forma e mais dado a devaneios. Mas pelo menos dá um passo na direcção certa para se obter um acordo, ao reconhecer, depois de muita conversa fiada, que percebe e aceita que Israel tem direito a querer manter uma população maioritariamente judaica.
Mas talvez não importem muito estas fragilidadades crescentes de Arafat. Se o seu sucessor designado, Marwan Barghuti, ainda for a tempo de fazer alguma coisa. Sucessor designado por Israel, claro, ao condená-lo recentemente a uma longa pena de prisão - o melhor método de selecção de bons líderes nacionalistas. Veja-se Gandhi, Mandela, Xanana.  
  Falluja, onde até os rebuçados americanos 'são' veneno Uma excelente reportagem no Magazine do New York Times sobre Falluja, mostra bem a que ponto as coisas estão no terreno e como sempre foram muito mais complicada do que os neo-cons queriam acreditar. Os marines são melhores do que o exército? Foi quando os marines substituíram o exército que tudo explodiu. É melhor hearts and minds do que bomb'em to hell? Falluja nunca se deixou governar facilmente, nem mesmo por Saddam. E era tarde demais depois de soldados sem treino no controlo de multidões terem morto 15 pessoas numa manifestação no início da ocupação. Dar-lhe rebuçados? Nem isso resulta...

Falluja was home to many high-ranking army and Republican Guard officers. But it was always a difficult place to rule, even for Hussein, a volatile mix of rival sheiks and imams and military men, controlled by half a dozen powerful families...
The Americans have had an even harder time taming the city... During the U.S.-led invasion last year, Falluja put up virtually no resistance. But on April 28, 2003, a demonstration to mark Hussein's birthday turned unruly, and U.S. soldiers opened fire, killing 15 people. The city was soon a hotbed of rebellion, with frequent mortar, car-bomb and rocket-propelled-grenade attacks on American convoys and American helicopters -- and many U.S. casualties. When soldiers rolled through town and tossed candy out the windows of their Humvees, the children of Falluja threw it back. They said it was poison.

Solução? Pôr a velha guarda no poleiro com um velho oficial expulso por Hussein a servir de fachada. Boa ideia? Má ideia? Única saída para evitar um banho de sangue, provavelmente... Certamente muito longe do paraíso democrático prometido. No terreno a utopia ainda não chegou.
Título do Artigo?
The Re-Baathification of Fallujah
Esta passagem resume bem porquê
My interpreter, Khalid, and I found ourselves suddenly alone. The officers behind the table noticed me and glared in my direction. Khalid started to get a little twitchy. ''It's like a joint chiefs meeting of the Republican Guard,'' he whispered to me. ''These guys are bad guys. They hate Americans. Let's get out of here.''
 
  Bloqueio ou as desventuras do Daniel na cova da política autárquica O Barnabé não é o blogo do Bloco..., não é um bloque do Bloque..., não é o blogue do Bloco de Esquerda. Basta ler os postes de alguns dos seus brilhantes afiliados (do Barnabé, não do Bloco). Nisso realmente o Barnabé é diferente de outros, não serve de argumentário de serviço a um partido. Quanto ao não menos brilhante Daniel Oliveira (poste Discriminação!) não esconde a filiação no dito Bloco, nem tinha porquê. Nessa qualidade resolveu atacar o PCP por não ser de esquerda à séria nas autarquias. Até apoia o PSD no Porto! O Daniel acha mal. Como outros já disseram, se é um escândalo, não é só no Porto. O Daniel acha ainda mais mal. Uma traição à esquerda! Porquê? Porque se não houvesse diferenças de política na gestão municipal passava-se tudo a gestores profissionais.
Que haja diferenças de política a nível local até admito, que elas sejam facilmente classificadas como de esquerda ou de direita já me parece mais duvidoso. Mas mesmo que existam, a ideia de que um partido de esquerda não pode apoiar políticas de um partido de direita ao nível local ou até nacional é ridícula! Desde logo, no caso de muitas câmaras isso significaria que se tornariam ingovernáveis. No que é isso seria de esquerda, não sei. A não ser que o Daniel (o Bloco?) tenham aderido ao anarquismo. E depois pela razão óbvia de que pode haver políticas consensuais, ou porque são as melhores, ou porque são as menos más para o concelho (ou para o país). Seguir o princípio do Daniel à letra era receita para a completa cegueira ideológica. Mais ou menos do género do que o PCP tantas vezes é acusado. E deixaria a agenda política completamente nas mãos do adversário. Ou seja, se o PSD subitamente decidir legalizar o aborto até às 12 semanas o Daniel acha que o Bloco deve votar contra para ser coerente com seu esquerdismo a toda a prova? 
  Portugal 1 Espanha 0 A palavra a nuestros hermanos:
Fernando Torres: "Portugal fue mejor que España, supo jugar del minuto uno al 90. Pensaba que sólo iban a dominar 20 minutos. Nos han arrollado en todas las líneas, tuvieron siempre el balón. Han mantenido un nivel altísimo."

E ainda comentário no El Mundo (onde é que eu já ouvi isto?):
Portugal siempre dio la sensación de meter una velocidad más que sus vecinos ibéricos, minimizados ante el intenso despliegue en rojo y verde, incapaces de poner una pausa ante tanto ritmo.
España no supo encontrar el balón en la primera mitad y cuando lo tuvo en la segunda fue porque no le quedó más remedio, se lo dejaron prestado. Se desintegró al tener cortadas las líneas de abastecimiento: Xabi Alonso y Albelda no dieron abasto ni abastecieron. El Rúal más torpe que se recuerda, bajaba y bajaba, pero la llave del laberinto seguía perdida porque los extremos estuvieron sellados. La línea de doble presión portuguesa con los pegajosos Maniche y Costinha al mando, en la que incluso se incrustaba Pauleta, estuvo perfectamente sincronizada en los apoyos. El balón dividido siempre cayó en un portugués.
A Joaquín le esperó Nuno Valente, que debe haber estudiado cada pieza de sus bicicletas, enseñando siempre su lado más fuerte. Lo dejó seco, porque cuando lo esquivaba soltaba la patada y listo, como ocurrió en la otra orilla con Vicente, superado por Miguel en los dos campos. Aún así, los de Sáez se sacudieron el letargo en alguna conexión aislada de Alonso con Torres. Raúl tuvo un par de acciones dignas de mejor fin y el propio Torres despilfarró un remate limpio de córner. En el área española, el debutante Juanito, siempre atento, apagó muchos fuegos. Sobrevivir, como no se debe, en el alambre con tiros milagrosamente rechazados.
En el segundo acto, ya con Portugal con menos resuello y con Figo abrigado por el centro, España cometió el error de creerse indemne a la desgracia, la señora que siempre le persigue con saña. La sensación era bajo control cuando el madridista conectó de primera en la frontal con el recién entrado Nuno Gomes. El delantero del Benfica se revolvió en un palmo y enganchó un sopapo con la derecha que mandó a España al llorar sus penas al purgatorio que tanto visita.
Los de Sáez respondieron como los boxeadores sonados, rabiosos, pero con la cabeza ausente de lógica dentro del campo, la misma que le faltó a Sáez fuera.
Al final, todo estaba perdido, todo hijo de vecino volcado en primoroso desorden, aunque los portugueses no hurgaron más en nuestra impotencia histórica al fallar varios contras de fiesta. Punto y final de otra apología del desastre.


PS - Passámos de bestas as bestiais? Calminha! Ainda não ganhámos o campeonato. Mais vale degustar uma vitória de cada vez, com cervejolas e música pimba e tudo. Mas lutaram, não desistiram. Isso chega para me deixar orgulhoso e inspirado... 
junho 20, 2004
  Portugal Espanha Que ganhem, mas sobretudo que joguem. Por esta altura do campeonato já deve ser claro para todos que a este nível tudo pode acontecer a toda a gente. Espero que o drama se fique pelo jogo jogado... 
junho 19, 2004
  Chico aos 60 O pai era um dos mais famosos intelectuais brasileiros, mas lá veio o tempo em que de ser filho do Francisco Buarque de Holanda e irmão da Miúcha, foram eles que passaram a ser a família do Chico Buarque. Obrigado ao Ivan e (por essa via) ao blogue de esquerda por nos lembrarem o aniversário...

Aqui fica uma história do início de tudo, no magnífico site do cantor. E quem não vidra também, quase 40 anos depois, ao ouvir o seu Pedro pedreiro esperando o trem? Obra desigual, é certo, mas quem não arrisca não petisca...

Roberto [Freire] conhecera Chico através justamente de Miúcha, sua amiga, que o arrastou para um show no Colégio Santa Cruz, aí por 1961, 1962. "Você precisa ouvir", ela dissera, "umas coisas que o meu irmão mais novo está fazendo". O escritor não ficou nada impressionado com "o tal do Carioca - tímido, gago, atrapalhado, superbonito mas tocando um violão danado de ruim". Miúcha insistiu e nos primeiros meses de 1965 levou Chico à casa de Roberto Freire, numa noite em que lá estavam, entre outros, Alaíde Costa e Geraldo Vandré. Dessa vez ele cantou Pedro pedreiro, composta havia pouco - tinha sido apresentada numa daquelas producentes de Walter Silva no Paramount, o BO 65, no dia 29 de março. "Fiquei vidrado", lembra Roberto.

O carro-chefe era Pedro pedreiro, que a partir daí ele seria solicitado a apresentar onde quer que aparecesse. "Só me deixavam cantar essa", conta. Uma vez, nos bastidores do programa do Chacrinha, na TV Excelsior, um assistente do Velho Guerreiro, de nome Ramalhete, preocupado com a extensão da letra (sessenta versos), lhe propôs sem mais rodeios: "Não dá pra esse trem chegar mais cedo?" Não havendo acordo, o trem foi cancelado.

Pedro pedreiro - que Chico cantou para Tom Jobim no dia em que o conheceu, em 1966:
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande no bilhete pela federal
Todo mês
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando aumento
Para o mês que vem
Esperando a festa
Esperando a sorte
E a mulher de Pedro
Está esperando um filho
Pra esperar também
 
  Boris at 40 O editor do Spectator, que também trabalha part-time no parlamento para ajudar a pagar as contas (é deputado conservador), entre outras actividades várias numa vida exemplarmente organizada e singularmente devotada ao bem público e de um modo geral às coisas sérias, acabou de celebrar o seu quadragésimo aniversário. Aqui fica assinalado o momento, com votos de que Boris Johnson conte muitos e bons anos pela frente. Fazem falta pessoas que não brinquem com a política, é certo. Mas ele é suficientemente brilhante para merecer dispensa da regra geral... Como podem verificar na preciosa antologia dos seus dispersos agora numa edição em paperback muito shakespearianamente intitulada (o rapaz sempre foi modesto) Lend me your hears! É rir até chorar!
 
  Durão, Vitorino e a Europa O meu amigo Fernando Martins informou-me de que a CNN tinha dado Durão como um dos nomes na corrida para chefiar a Comissão Europeia. Fica aqui a adenda. Deve ser a primeira vez que dois portugueses são referidos pela imprensa internacional como candidatos a um cargo tão importante. Pelo que li num poste do Paulo Gorjão, no entanto, Durão afastou a hipótese, com o argumento de pôr Portugal primeiro. Opção cuja veracidade a Bloguitica parece encarar com algum cepticismo. No entanto, parece concordar que uma eventual selecção de Vitorino significaria que para ele Portugal seria uma segunda escolha (post 1222). Continuo a não ver porque é que nesta altura do campeonato ainda se trata a questão como uma coisa exclusivista! Vitorino ou Durão servem perfeitamente Portugal estando na Comissão (até rima!). E não vejo mal nenhum que quem trabalhou para isso, aspire a chefiar a organização em que desempenha funções. Nem que isso seja incompatível com poder ter aspirações políticas em Portugal. O Paulo Gorjão limita-se a comentar de acordo com a mentalidade dominante no nosso país? Certo, e ainda há pouco ela veio ao de cima quando o Daniel Oliveira achou que havia algo de errado no facto de Sousa Franco ter representado 'o outro lado' na negociação do Concordata. Por mim acho que há que combater este tipo de atitude. Ou seja, e parafraseando o Eça, há mais coisas para apreciar neste mundo do que a beleza do rio Minho!

PS - Temos constituição? Até a ver aprovada e ratificada não deito muitos foguetes. Junto-me ao André Belo a lamentar o corte da epígrafe de Péricles/Tucídides. Parece que soava demasiado ambiciosa a ouvidos ingleses e de outros eurocépticos. O que suscita a questão, afinal não foi você que pediu mais democracia na União? (Hoje estou um poeta!) 
  Agir ou não agir no Sudão? O New York Times exige acção no Sudão no seu editorial de hoje Time for Action on Sudan. Um problema para cuja a urgência cada vez mais gente tem chamado a atenção, nomeadamente o Francisco José Viegas e o Paulo Gorjão em Portugal. Para já o Times pede sanções conjuntas da Europa e dos EUA e uma acção diplomática concertada. Chamando mais uma vez a atenção para o risco iminente que correm centenas de milhares de pessoas se nada for feito.
Por ironia do destino, há pouco mais de cem anos, em 1898, os britânicos e os franceses quase se envolveram numa guerra, uma espécie de Primeira Guerra Mundial ao contrário, por causa do valor estratégico inestimável desta região nessa época de construção de impérios.
Hoje a situação vem mostrar, mais uma vez, como é importante a acção conjugada da Europa e dos EUA. Como seria importante haver uma forçada armada permanente da ONU e reformar o direito internacional no sentido de tornar explícito um especial dever de salvaguarda e um direito de ingerência com todas as medidas adequadas em casos de risco eminente de genocídio, embora essa acção ficasse reservada à ONU ou a organizações regionais de segurança para evitar aproveitamentos abusivos. E prova para quem ainda tivesse dúvidas depois da Libéria e do Haiti, que as prioridades da Administração Bush e do seu belicismo nunca foram primordialmente humanitárias. O exército americano como dizia Rice na campanha de 2000 não faz baby-sitting. Pois é pena... É por sinal uma actividade bem corajosa e arriscada. O relógio está a contar, e há muitas crianças literalmente à espera da morte certa. 
junho 18, 2004
  Vitorino à frente da Comissão? Parece que se chegou a um impasse, e portanto as hipóteses de António Vitorino aumentaram. O facto de ele continuar a estar na corrida, apesar de ser português e apesar de ser socialista, é já de si prova suficiente das suas qualidades. Seria o primeiro cargo internacional verdadeiramente imporante a ser preenchido por um português.
A minha dúvida está na possibilidade de se repetir na Europa actual o modelo Delors, que é a bitola implícita para o presidente da Comissão, e para mais sem o apoio de um grande país. Mas talvez isso não seja o desejável. E o seu trabalho como comissário parece um bom sinal de que se alguém consegue ser eficaz sem cortar pontes é Vitorino. E claro que isto seria bom para Portugal. Não por quaisquer favorzinhos que (não) irá fazer. Mas porque se for escolhido e se fizer um bom lugar dará uma imagem de competência que só pode benificiar o país. Além, claro, de que uma boa gestão da Comissão é evidentemente no interesse de Portugal como membro da União.
Quanto à hipótese Durão Barroso francamente não vi referências na maior parte da imprensa internacional, e parece-me muito complicado tendo em conta a dificuldade de encontrar um sucessor em Portugal. É também claro que teria mais dificuldades do que Vitorino em desempenhar um bom lugar, pelo menos de início, visto não ter a experiência na Comissão deste último. Mas evidentemente seria à partida um bom sinal e desejaria a qualquer dos dois boa sorte! Que bem precisa é para desempenhar um lugar muito ingrato. 
junho 17, 2004
  A selecção, os russos e os hooligans Ouviram os meus conselhos! Um pouco como na história do velho treinador do meu pai, no futebol amador, que antes de cada jogo gritava sempre 'vamos ganhar!' E por isso podia dizer com toda a propriedade quando perdiam 'vocês não ouvem o que eu vos digo!'
Excelentes textos do Rui Tavares sobre o jogo.
O pessoal aqui em Londres achou melhor manter um perfil baixinho just in case os hooligans daqui decidirem vingar-se da porrada dada aos colegas, em boa hora, nos Algarves (no meu caso foi porque tinha de trabalhar). Ainda bem que vivemos numa parte civilizada da Europa insular. Os desacatos, como toda a gente aqui sabe, são uma coisa tradicional do Mediterrâneo [sic] por esta altura do ano. Mas de onde vem o racismo deste hooligans: do sol do sul, do Sun do norte, ou talvez seja mesmo do porta-voz da UEFA?
Tambem fiquei a saber pela BBC que afinal os meninos foram todos presos por engano, foram apanhados no meio da maralha, mas eram todos muito bem comportados. Fonte insuspeita: as respectivas progenitoras
  Ainda sobre a tortura no Iraque ou porque é eu continuo a gostar dos EUA apesar de Bush Vale a pena ler o editorial Torture Policy do Washington Post que comenta que President Bush and his spokesmen shamefully cling to the myth that the guards were rogues acting on their own. Yet over the past month we have learned that much of what the guards did -- from threatening prisoners with dogs, to stripping them naked, to forcing them to wear women's underwear -- had been practiced at U.S. military prisons elsewhere in the world. Moreover, most of these techniques were sanctioned by senior U.S. officials, including Defense Secretary Donald H. Rumsfeld and the Iraqi theater command under Lt. Gen. Ricardo S. Sanchez.
E no mesmo jornal este texto de Anne Aplebaum So is Torture Legal?
O Post, convém lembrar, apoiou a intervenção no Iraque apesar de algumas reservas.
Convém ainda lembrar que eu não ponho em questão que os EUA enfrentaram uma ameaça real e excepcional em 2001. A questão não é portanto a necessidade de medidas excepcionais em resposta, mas dos seus limites. Mesmo na guerra existem regras, e quem as quebra paga um preço moral e politico. 
  Parece incrível mas é verdade O Luciano não vai deixar de ser um comprometido espectador, mas infelizmente parece que vai deixar de o ser na blogosfera. Percebo bem as razões. Mas é uma perda grande para quem gosta de ideias e de as discutir, que não parece ser assim tanta gente em Portugal. Ou como diria Sir Winston (quando soube que tinha perdido as eleições em 1945): 'If this is blessing, it is certainly very well disguised!'
Mas não há mal que sempre dure como diz o nosso povo, e se a ordem instalada deixar, e talvez até se não deixar, ainda o vamos ver a debater por muito lado. Parabéns por este ano e até breve. 
junho 16, 2004
  Alguém falou em culto da personalidade? A obsessão inglesa com Beckham parece não ter limites. Uma instalação video na National Portrait Gallery, normalmente a consagração de uma vida dedicada ao serviço da nação, mostra o dito a meio corpo a dormir durante mais de uma hora. Passei por lá sem saber, e confesso que fiquei espantado com a afluência de público feminino a uma sala em particular. Quanto à obra fiquei com dúvidas se o objectivo era criticar o culto do dito David, promovê-lo, ou glosar (gozar) o dito com a ajuda de uma famosa estátua florentina de quem tomou de empréstimo o nome. Mas não posso verdadeiramente comentar visto que não assisti durante muito tempo (volta Rambo, estás perdoado!)
Há uns dias na BBC Radio 4 uma mãe queixava-se que a filha de 4 anos se recusava a acreditar que a bandeira inglesa era a bandeira de S. Jorge, ou sequer inglesa! Garantia à mãe que toda a gente sabia que era bandeira do Beckham! Após muita insistência lá admitiu a hipótese de que talvez ele a tivesse emprestado à Inglaterra!
Tenho visto umas tabuletas nalguns cafés e pubs a dizer «football free area». Parece-me que uma «Beckham free area» demorará mais um bocadinho. Ou será que se ele mais uma vez não mostrar nada de especial neste Euro a coisa passa? Duvido. Os cultos de personalidade são cegos, surdos e mudos. 
  A Selecção é imprevisível nos resultados até nos melhores momentos. Mas numa coisa se tem revelado previsível, espelho de um mal, senão nacional, pelo menos muito generalizado: não fazer, mas criticar. O Porto mostra que há um Portugal diferente, capaz de lidar com os desafios. E no jogo com a Grécia, apesar de tudo muitos jogadores que não desistiram de lutar até ao fim. Não se trata de mais vitórias morais, trata-se de aceitar que toda a gente ganha e perde na vida. Ganhar deve ser o objectivo. Mas isso depende de muitos factores. Desistir depende de nós. É isso que eu espero para amanhã, que não desistam face ao primeiro obstáculo. 
junho 14, 2004
  Blasfémias e a ONU 2 Depois, João Miranda pergunta se o Iraque é uma derrota para os EUA o que seria uma vitória. E não vê o país como uma ameaça grave para a segurança internacional. Uma vitória seria Bush obter os objectivos que se propôs:
- Mostrar que existiam ADMs e que a ONU tinha falhado na sua missão de as eliminar;
- Conseguir uma significativa participação internacional nas forças de ocupação;
- Ser acolhido como libertador pelos iraquianos;
- Criar no Iraque um exemplo de paz, prosperidade e democracia no Médio Oriente.
E a razão porque eu considero o Iraque como uma ameaça grave para a segurança internacional é precisamente porque os EUA falharam nestes objectivos e nas suas obrigações básicas como potência ocupante.
E entra numa fase em que se torna difícil acompanhar os seus argumentos. A ONU não consegui inspeccionar as instalações militares iraquianas!?? A ONU trocou petróleo por palácios!?? Que eu saiba os americanos é que não conseguiram encontrar armas nenhumas! Palácios? Que eu saiba os norte-americanos estão a usar os mesmos palácios (e já agora as mesmas prisões) que Saddam. Não conseguiu evitar a guerra, claro, mas isso é argumento contra a ONU ou contra a Administração Bush? E por acaso devemos acabar com a polícia e os tribunais porque há crimes? É claro que o Conselho de Segurança não condenou a invasão, que eu saiba os EUA ainda têm veto na questão. E o João Miranda que começa por dizer que ninguém disse que a ONU legitimara a ocupação termina a dizer que ela foi forçada a legitimar a ocupação! Mas sobre isso não vou repetir o meu poste anterior.
Quanto às supostas propriedades milagrosas da acção e da legitimação da ONU não tenho ilusões. Mas a verdade é que as suas operações de paz correram muito melhor do que esta operação suspostamente exemplar dirigida pelos EUA, cuja incapacidade em resolver sequer o problema básico da segurança resultou na morte trágica de Sérgio Vieira de Mello, e na morte e ferimento de muitos funcionários da ONU empenhados em corrigir os erros de quem há anos vinha criticando senão gozando com o seu trabalho de nation-building. Parece-me de péssimo gosto falar de fuga dos que passaram por isso, talvez por ter conhecido recentemente uma pessoa próxima de Sérgio Vieira de Mello, que ainda está a recuperar do que se passou.
Para terminar quero deixar claro que evidentemente que estou preocupado com o que se passa, com o facto dos EUA terem caido neste atoleiro e dos iraquianos continuarem a sofrer depois de décadas de guerra e repressão. Espero que ainda seja possível compor a situação. Mas não é à custa de leituras que legitimem uma política desastrosa que se conseguirá isso.
 
  Blasfémias e a ONU 1 João Miranda deu-se ao trabalho de responder longamente a uma crítica nossa. Na verdade o meu ponto essencial é perfeitamente ilustrado pelo seu segundo poste. Eu chamava precisamente a atenção para o facto de Administração Bush e dos defensores da sua política externa de repente terem passado a dar grande valor às decisões tomadas pela ONU. O Pedro Miranda diz que não se lembra de os EUA terem remetido a ONU para o caixote do lixo e fala de processo de intenções da minha parte. Na verdade, é exclusivamente um problema de memória dele. Pelo vistos eu lembro-me e ele não do discurso de Bush em Setembro de 2002 na Assembleia Geral da ONU em que ele afirmou: Will the United Nations serve the purpose of its founding or will it be irrelevant? Graças a Bob Woodward sabemos também como a decisão de recorrer à ONU foi arrancada a ferros, e conhecemos os comentários de Dick Cheney e Rice a respeito da inutilidade da ONU (ver Bush at War, entrada UN, por exemplo, pp.335 ss. e 345 ss.)

O João Miranda acha que é incrível ver a França como aliado dos EUA. Mas se não se confundir aliado e satélite não vejo qual é o problema. Mesmo os aliados por vezes assumem publicamente posições opostas. Aconteceu no Suez em 1956. Aconteceu no Vietname nos anos 60. E a verdade é que Chirac era dos presidentes franceses mais pró-americanos. A Administração Clinton teve nele um aliado importante na questão da Jugoslávia. E eu não falava só da França – que naturalmente reagiu à provocação de quem tentava fazer crer que Paris tinha passado a ser irrelevante. Referia-me também a países como o Canadá, o México, o Chile, o Egipto, ou a Alemanha.

Vale a pena ler este texto de Robert Kagan, em que embora não concorde com tudo, sempre diz que: Charles Krauthammer asked why Americans should care about the legitimacy bestowed by other nations. It is a good question. During the 2000 presidential campaign, Condoleezza Rice derided the belief, which she attributed to the Clinton administration, "that the support of many states -- or even better, of institutions like the United Nations -- is essential to the legitimate exercise of power." But it turns out we're not as thick-skinned as we think. Even the Bush administration felt compelled to seek European approval last year, and at the place where Europeans insist approval be granted, the U.N. Security Council. [...] Nor can there be any question that the Bush administration has suffered from its failure to gain the broader approval of Europe, and thus a broader international legitimacy, for the invasion of Iraq -- and suffered at home as well as abroad.
 
junho 11, 2004
  Sousa Franco Quem teme as tempestades, acaba a rastejar.  
junho 10, 2004
  Uns dias de silêncio por uma campanha triste Nunca dissemos muito sobre esta campanha, mas associamo-nos às críticas a uma campanha que parecia deslizar para o populismo desenfreado na procura desenfreada dos votos e nos seus custos para o sistema político. Sousa Franco, pelo menos tentou apresentar de vez em quando um discurso construtivo sobre a Europa. Uma coisa que exige coragem nos dias que correm. Tragicamente, acabou por ser ele a garantir que esta seria uma campanha triste, muito triste... 
  A blafémia A honesta blasfémia continua previsivelmente a pregar a peta de que as sucessivas resoluções da ONU sobre o Iraque legitimam inequivocamente e unanimemente a guerra e a ocupação. Não são os únicos a olhar o céu para desviar a atenção da confusão na terra, mas nem por isso deixa de ser ilusionismo. O que o Conselho de Segurança da ONU e as suas agências têm feito, em resposta a apelos cada vez mais patéticos dos EUA que antes os tinham remetido para o caixote de lixo da história, é lidar o melhor possível com mais uma ameaça grave para a segurança internacional, desta feita criada por um país que antes geralmente ajudava a resolvê-las. Esta última resolução é mais um reconhecimento da falência da política norte-americana de confronto com a ONU e com muitos dos seus aliados tradicionais. A ironia é que se em Abril de 2003 os EUA tivessem entregue a administração do Iraque à ONU, talvez ainda pudessem ter conseguido a legitimidade e as tropas que hoje, com a confusão instalada, não irão obter, com ou sem resoluções. Pelo menos, tinham-se livrado de todas as manchas de uma ocupação ilegal, que começou logo por falhar nas suas obrigações mínimas de garantir a segurança de pessoas e bens. 
  Leia com atenção a provocação José Manuel Fernandes ocupa um cargo complicado. Mas lê livros, está informado dos debates no exterior, enfim, trabalha as suas análises. Portanto, concorde-se ou não com elas, merecem atenção. Numa nota de resposta a um leitor que critica o seu último texto sobre os EUA e a Europa, o dito é acusado precisamente de falta de atenção. Não era um editorial, era uma conferência. E não se comparava Saddam a Hitler - esse leitor, como este leitor, deve ter percebido mal a última frase do texto.
Mas já agora, o José Manuel Fernandes leu com atenção o Robert Kagan que cita em apoio da sua tese? É que eu fiquei com a impressão de que uma das teses centrais de Paradise and Power é precisamente que houve uma mudança radical na política externa norte-americana. Que os EUA, durante muito tempo um país fraco militarmente, eram os grandes crentes no valor da diplomacia, no império da lei internacional e nas organizações internacionais. E eram os países da Europa, bem mais poderosos militarmente, a considerar esse moralismo uma perda de tempo. Como disse Clemenceau de Wilson e dos seus Quatorze Pontos, em 1917, até o Altíssimo se tinha contentado com Dez! Ainda nos anos 1920 os EUA promoviam tratados de mediação obrigatória e de desarmamento naval, e os Republicanos recusavam entrar na Liga das Nações, com o argumento de que não era suficientemente forte para defender a lei internacional!
Claro que nalguns dos seus objectivos declarados a Administração actual continua uma longa tradição americana. E também é certo que houve fases mais militaristas e imperialistas na história americana. Mas a questão é precisamente essa! Ninguém espera que Kerry seja uma pacifistas. Mas bastava que levasse as alianças tradicionais dos EUA um pouco mais sério para fazer uma grande diferença.
Tenho dificuldade em pensar nalgum caso, desde o século XVIII, de um governo americano com tanto desprezo explícito pela lei internacional ou pela diplomacia como o actual.
Finalmente, o José Manuel Fernandes leu com atenção a imagem delicada que utiliza de uma Europa rica, gorda e velha? O citado Ernâni Lopes ter-se-à inspirado no tipo de discurso de um certo Sr. Adolfo ou de um certo Sr.José com as suas diatribes contra a Europa liberal e burguesa? Ou é só coincidência? Suponho que seja mais uma provocação. Que aliás foi o que Paulo Gorojão (post 1119) chamou ao texto. De facto uma provocação a ler com atenção.

PS 1 - Quando é que o JMF recomenda uma das orações de Roosevelt ou Churchill sobre a ONU ou sobre a Europa como as que citámos em postes anteriores? Parecem-me mais úteis hoje do que as orações bélicas a fazer concorrência ao bin Ladin e a alimentar a sua guerra de religiões...
PS 2 - Não percebi nem a ler com atenção: Começando pelo código genético da liberdade, que começou por ser liberdade religiosa e por ser precoce na América, enquanto na Europa chegou mais tarde e associou com frequência liberdade política a perseguições religiosas.
PS 3 - A guerra racial de 1861-1865, também conhecida por guerra civil americana, não tem mais importância para esta questão do que as guerras religiosas do século XVI? É que sem o Sul os EUA teriam um perfil político muito parecido à Europa... 
junho 08, 2004
  O Marxismo conquista Londres!!!! Não, não apanhei sol a mais. (Embora esteja um tempo magnífico em Londres, quase parece Portugal na primavera!). Não, não estou a falar do Ken Livingston, que toda a gente conta que ganhe as eleições locais na metrópole à beira do Tamisa plantada. Aliás ele está um vermelho muito ténue e cada vez mais verde. Estou a falar disto, o grande acontecimento cultural da capital neste início de verão!
E como modesta homenagem de um marxista confesso, da linha Groucho, aqui fica uma pequena selecção de alguma palavras do mestre que nos parecem especialmente apropriados aos tempos conturbados em que vivemos...
There ain't no Sanity Claus. (A Night at the Opera)
One morning I shot an elephant in my pyjamas. How he got into my pyjamas I don't now! (Animal Crackers)
Either he is dead or my watch has stopped! (A Day at the Races)
Marry me and I will never look at another horse. (A Day at the Races)

OK, as últimas palavras não têm a ver com os tempos que correm. Claro que cada um é livre de achar o que quiser. Mas se achas que sim, then you're in trouble! 
  Nem anti-americanos, nem anti-europeus Um novo poste do Luciano sobre o D Day mostra que ainda há quem aprecie o debate de ideias. Mostra também que estamos menos em desacordo do que eu pensava (não é porque ele diz umas coisas simpáticas, felizmente entre parênteses). No fundo parece-me ser mais uma questão de se pôr a ênfase no anti-americanismo ou no anti-europeísmo. Quando a verdade é que os dois são realmente e igualmente preocupantes, distorcem o passado, empeçam o presente e turvam o futuro. Não faltam por aí espalhadas cartinhas (como a anterior) em que deixo claro que considero essencial o papel da aliança entre os EUA e a Europa não apenas para a segurança e prosperidade dos dois lados do Atlântico mas para ser sequer conceptível uma agenda liberal internacionalista que realmente siga e prossiga os exemplos de um Roosevelt, de um Churchill e de outros realista com ideais de 1945. Ou seja, quando não há polémica, não há polémica... Essa é que essa! 
junho 06, 2004
  D Day or the Great Coalition O último post do Luciano Amaral, com o qual concordo nalguns aspectos, supreende-me pelo seu simplismo. Aparentemente tudo o que sucedeu de bom na Europa nos últimos cinquenta anos deve-se aos desinteressados norte-americanos, que ganharam praticamente sozinhos quer a Segunda Guerra quer o pós-Guerra.
A verdade é que a única forma de isso ser verdade era se os EUA fossem um império no modelo nazi ou soviético. Os EUA apoiaram geralmente o processo de integração europeia até à actual Administração, que o quer destruir. Mas ele foi o resultado de iniciativas europeias, da coragem e visão de estadistas europeus como Adenauer ou De Gaulle.
Mais, a Europa sempre foi considerada pelos EUA como uma barreira essencial para a sua própria segurança. Um poder agressivo que a dominasse seria uma ameaça mortal para os americanos. E os europeus combateram heroicamente durante seis anos, arriscando tudo e morrendo aos milhões, contra o nazismo. Depois, os europeus assumiram uma responsabilidade e um risco não despiciendo na contenção da ameaça soviética.
Quem oiça o Luciano ou o Bush II (ver post anterior), não imaginaria que havia soldados de muitos países envolvidos na Segunda Guerra Mundial e mesmo na Normandia (nomeadamente integrados nas forças britânicas). Essa foi realmente uma grande coligação de vontades. Inclusive de franceses, que em 1940 correram o risco, ao recusar o armistício com a Alemanha, de nunca mais poderem sequer regressar à sua pátria. Isto é coragem, e também não pode ser esquecida neste dia.
No pós-guerra o plano Marshall salvou tanto a economia americana quanto a economia europeia. Os EUA contribuem para a segurança europeia, como os europeus contribuiram para a segurança americana. Muitos, europeus e americanos, pensam, no entanto, que a política da actual Administração aumentou em vez de reduzir os riscos para todos nós. E desprezou uma parceria que, apesar de tensões naturais, tinha e tem muito para dar. Esse é o problema que nenhum festejo, por mais nobre, pode apagar ou resolver por si só.

PS O Trotsky fica para outra vez... 
  Asneiras O Ivan atacou com toda a razão os exageros verbais que estão o dominar os cartazes na campanha para as europeias. E o problema extravasou já para o debate político propriamente dito (ou lá o que é), que ultimamente parece andar ao ritmo do, ora agora insultas tu, ora agora insulto eu, com declarações de virtude indignada à mistura. A questão não é nova, abrange todos os partidos, mas parece-me que se tem agudizado nos últimos anos. Humor e crítica sim, mas com limites! Talvez fosse bom os políticos lembraram-se dos anos finais da Monarquia ou da Primeira República. Ainda não estamos lá, nem acredito que lá cheguemos. Mas o problema de base é o mesmo, quando os políticos não se dão ao respeito, como é querem que os respeitem? 
junho 05, 2004
  Eleições americanas - hear all about it! Fizemos aqui publicidade à cobertura das eleições americanas no Post, mas agora há concorrência de peso em português! Um dos nossos melhores jornalistas, Pedro Ribeiro, começou um blogue no Público dedicado inteiramente às eleições americanas! 
  D Day minus 1 Hoje fazemos uma excepção ao tom das últimas notas sobre o dia D para citar este editorial do Guardian sobre a vergonhosa, embora previsível, manipulação da memória da Segunda Guerra por Bush II:
George Bush arrives in Europe with two projects uppermost in his mind: nailing down international diplomatic support for his transition strategy in Iraq and getting re-elected back home in November. Of the two, there is no doubt which is the president's greater priority.
Like too many American politicians of both parties, Mr Bush has an extremely selective view of what happened in Europe in the years 1939-45. You would never know, from anything he says of the international failure to stand up to Hitler, that the United States opted out of the League of Nations from the start; or that the war with Hitler had been raging for more than two years before the US entered it, to considerable opposition at home; or that Russia bore much of the weight of combat against Germany for three years before D-Day; or that thousands of soldiers of other nations were there on the beaches of Normandy 60 summers ago, including ours. In his speech to the US air force academy this week, for example, Mr Bush said that the second world war began with an attack on the US - news to Poles - before adding that he was going to France to honour a generation of Americans who saved the liberty of the world. [...]
But the fight against fascism was the world's war, not America's alone. The fight against terrorism is the world's too, not America's. Mr Bush needs to get it right this weekend. If we cannot rely on his version of the past, we cannot have much confidence in his vision of the present either.

Isto, a respeito deste discurso do dito senhor.

Fica aqui uma citação pertinente de Roosevelt, que teve de lutar durante anos para que os heróicos americanos aceitassem que tinham de ao menos que ajudar a quem estava a lutar:
The experience of the past two years has proven beyond doubt that no nation can appease the Nazis. No man can tame a tiger into a kitten by stroking it. There can be no appeasement with ruthlessness. There can be no reasoning with an incendiary bomb. [...]
The people of Europe who are defending themselves do not ask us to do their fighting. They ask us for the implements of war, the planes, the tanks, the guns, the freighters which will enable them to fight for their liberty and for our security. Emphatically we must get these weapons to them in sufficient volume and quickly enough, so that we and our children will be saved the agony and suffering of war which others have had to endure. Let not the defeatists tell us that it is too late. It will never be earlier. Tomorrow will be later than today. Certain facts are self-evident. In a military sense Great Britain and the British Empire are today the spearhead of resistance to world conquest. They are putting up a fight which will live forever in the story of human gallantry. There is no demand for sending and American Expeditionary Force outside of our own borders. There is no intention by any member of your Government to send such a force. You can, therefore, nail any talk about sending annies to Europe as deliberate untruth. Our national policy is not directed toward war. Its sole purpose is to keep war away from our country and our people...

Fire chat de 29 Dezembro de 1940 
  Boas notícias, más notícias, silêncios preocupantes Do Iraque, boas notícias. A ideia de que o presidente foi escolhido contra os americanos, seja verdade ou não, é boa para a sua legitimação. E Sistani, o papa xiita, deu um apoio cauteloso ao novo governo, que era o máximo que era possível esperar. Os americanos parecem também estar a conseguir lidar sem fazer estragos irreparáveis com Moqtada as-Sadr, ou seja, parecem ter começado a conseguir fazer alguma gestão política da força. O que não quer dizer, infelizmente, que as coisas não se compliquem até ao final do mês ou depois... Entretanto, quer os checos quer até os australianos, podem estar de partida em Dezembro.
Da Arábia Saudita, péssimas notícias. A al-Qaeda, convém não esquecer, é dirigida por um homem que conhece bem os meandros da economia internacional, o risco permanente sobre o petróleo iraquiano e saudita que os seus terroristas estão a conseguir criar, pode ter consequências económicas desastrosas.
Dos dois países mais perigosos do mundo, o Paquistão e a Coreia do Norte, não há novidades. Mas mesmo isso não é razão para não nos preocuparmos com eles cada dia que passa... 
  Podem as Democracias fazer a Guerra? A resposta é óbvia: podem e fazem-no. A questão é quando e porquê, e com que resultados. A questão, no entanto, é marginal na consideração da actual divisão entre a Europa e os EUA. A este respeito quem quiser mais do que dogmatismo politicamente interesseiro ou o velho estratagema de culpar o mensageiro pela mensagem, pode ler esta excelente síntese sobre o que está mal na política de «alianças» de Bush II em: Loyalty as Foreign Policy.
Mas quanto à questão das democracias e da paz, nós começaríamos pelo artigo já clássico de Christopher Layne, Kant or Cant?, de crítica radical à ideia da paz democrática. Mas terminaríamos na análise que nos parece mais convincente, que é a de Jack Snyder em From Voting to Violence, que conclui que embora as democracias maduras não se guerreiem entre si, as confusões e tensões de um processos de democratização tendem a potenciar a possibilidade de conflitos armados. É também claro que as democracias maduras fazem a guerra, mas com saudável reluctância, geralmente como resultado de uma agressão directa ou a um aliado, e com sucesso. E quanto a este segundo aspecto recomendamos uma outra obra de Snyder, o seu Myths of Empire . Uma brilhante análise de como o culto dos valores guerreiros e a crença na supremacia da força nas relações internacionais, típico das ditaduras militaristas, tende a gerar expansões agressivas e descontroladas que terminam em desastre. A semelhança destes mitos de império dos militaristas da Alemanha e do Japão com os argumentos da Administração Bush II não pode deixar de impressionar, visto que o livro data de 1992. É este antes quebrar que torcer que Pacheco Pereira nos recomenda como moral e politicamente superior? É isto o realismo que Minogue nos recomenda que abracemos? Eu por mim voto no realismo defensivo de Snyder.

PS Snyder publicou no ano passado, um texto de análise da política de Bush II na National Interest 71. Infelizmente só está disponível em papel, mas quem tiver acesso leia que vale a pena. 
junho 04, 2004
  O Olimpianismo volta a atacar Pacheco Pereira e a Democracia e a Guerra, agora no seu quarto fascículo... É um tema fascinante e pleno de actualidade. Infelizmente parece que tudo não passa de um pretexto para vender uma nova ortodoxia, uma má tradução de uma má ideia (ou será uma boa tradução de uma péssima ideia), desta feita inglesa, courtesy of Kenneth Minogue. O objectivo é tapar o céu com a peneira. Ou seja, mostrar que a culpa da actual crise nas relações entre os EUA e uma série de países europeus é de uma crise moral da Europa. Mais ou menos como no tempo do Vietname, em que até os ingleses foram assaltados pela mesma aflição, suponho.
Nesta última prestação as contradições na análise atingem o nível do rísivel, e mostram bem a fragilidade da empresa. Afinal os EUA até também são olimpianos e a França afinal não é. No fundo parece que a culpa é da imprensa europeia. Os que vivem em Londres vão descobrir com surpresa que amáveis e meigos os antigos tablóides "patrióticos" ingleses, [são] agora eles próprios também antiguerra! E todos ficamos a saber que o que salva os EUA é o lobby pró-israelita na imprensa americana, que afinal existe, e é tão poderoso que sozinho consegue contrariar as forças do olimpianismo! Anti-semitas voltem, estão perdoados? Quanto às virtudes guerreiras, parece-me que o seu culto na Alemanha de Guilherme II ou de Hitler não deu grandes resultados; e os britânicos e norte-americanos pacifistas das décadas de 20 e 30 não precisaram do militarismo para ganhar a Segunda Guerra Mundial. Como diz o sempre muito patriótico Stephen Ambrose no seu D Day: None of them wanted another war [...] But when the test came, when freedom had to be fought for or abandoned, they fought.' Amen.

PS Não há nada comparável na Europa ao Memorial Day? Quem tenha estado em França ou em Inglaterra em Novembro, nos dias que antecedem o dia armistício, em que os dois países celebram os seus mortos em combate (ou em Paris, em Julho, no aniversário da libertação) sabe que não é assim. E da Polónia até à Grécia não faltam exemplos comparáveis. Há excepções, infelizmente, como Portugal... 
junho 03, 2004
  End of Tenet Um dos mais capazes decidiu que era tempo de se ir embora. Tenet demite-se da CIA. Ele sempre foi um grande jogador nos corredores do poder, foi a única figura importante nomeada por Clinton, em 1997, a continuar com Bush II. Mas talvez tenha jogado bem demais para o seu próprio bem. Será que isto quer dizer que ele está convencido que Kerry vai ganhar e quer sair pelo seu próprio pé? Ou é mais o receio de que apesar de tudo Bush seja reeleito e ele está simplesmente farto de os neo-cons e dos seus amigos, como Chalabi, a quem aparentemente alguém disse que a CIA tinha os códigos dos secretos iranianos e ele deu com a boca no trombone? Ou são pura e simplesmente razões pessoais? Afinal, toda a gente tem problemas...
Em todo o caso mais, umas memórias interessantes na calha. E não culpem o homem demasiado. Ele estava legalmente proibido de falar com o FBI, não podia assassinar bin Ladin, tinha o vice-presidente Cheney a visitar frequentemente Langley para animar as tropas no sentido de encontrar ADMs, e o Pentágono a «encontrar» a «informação» que ele não conseguia «encontrar»...
Quanto à silver bullet que poderia ter evitado o 11 de Setembro, é um mito. Embora não da forma que a Administração Bush pretende. Havia provavelmente informação suficiente no sistema (CIA, FBI, etc.) para evitar o desastre, mas só se, tal como aconteceu nos Jogos de Atlanta ou em 2000, alguém com a autoridade do National Security Advisor ou do próprio Presidente, juntasse todas agências e as obrigasse a procurar e juntar as peças do puzzle. O memo da CIA sobre uma ameaça terrorista pendente nos EUA deveria ter resultado nisso mesmo, mas Bush II estava de férias no Texas. Enfim, como tantas outras vezes, são os melhorzinhos que se demitem, os outros ficam até alguém os pôr fora. 
  Ainda o bem me Kerry mal me Kerry Tem interesse este texto do Washington Post sobre a equipa de política externa de Kerry. O Post é aliás o melhor jornal para acompanhar a eleição, e segundo eles as estatísticas mostram que nenhum presidente com a excepção de Truman (outro War President...) consegui ser reeleito com estes números nesta altura. Recomendo particularmente este texto From Bush, Unprecedented Negativity Scholars Say Campaign Is Making History With Often-Misleading Attacks Quanto a Kerry ser um flip-flopper, diz-me uma amiga americana que isso é porque muitos dos seus conterrâneos são incapazes de apreciar a nuance. Eu disse-lhe que é normal, afinal é uma palavra francesa, só mesmo se lhe chamarem wise and free flopping ou algo assim...
 
  D Day minus 4 O famoso discurso das quatros liberdades do tio Franklin Roosevelt em preparação da entrada dos EUA na guerra, e desenhando já a ordem internacional do pós-guerra (naquela época faziam-se as coisas com tempo!):

In the future days, which we seek to make secure, we look forward to a world founded upon four essential human freedoms.
The first is freedom of speech and expression - everywhere in the world.
The second is freedom of every person to worship God in his own way -everywhere in the world.
The third is freedom from want - which, translated into world terms, means economic understandings which will secure to every nation a healthy peacetime life for its inhabitants-everywhere in the world.
The fourth is freedom from fear - which, translated into world terms, means a world-wide reduction of armaments to such a point and in such a thorough fashion that no nation will be in a position to commit an act of physical aggression against any neighbor - anywhere in the world.
That is no vision of a distant millennium. It is a definite basis for a kind of world attainable in our own time and generation. That kind of world is the very antithesis of the so-called new order of tyranny which the dictators seek to create with the crash of a bomb. To that new order we oppose the greater conception - the moral order. A good society is able to face schemes of world domination and foreign revolutions alike without fear. [...]
The world order which we seek is the cooperation of free countries, working together in a friendly, civilized society.
This nation has placed its destiny in the hands and heads and hearts of its millions of free men and women; and its faith in freedom under the guidance of God. Freedom means the supremacy of human rights everywhere.


Discurso sobre o estado da União, 6 de Janeiro de 1941.

Quanto a recomendações, além do site da biblioteca presidencial Roosevelt de onde retirámos este excerto do discurso, merece referência o breve ensaio biográfico de Roy Jenkins dedicado a mais este grande liberal; e também a melhor obra sobre a Segunda Guerra Mundial como uma fenómeno global, A World At Arms
  Muito Realista Já viram Eternal Sunshine of the Spotless Mind? Muito realista... as angústias de lembrar e de esquecer. 
junho 02, 2004
  Kerry ou não Kerry? O Kerry afinal vai mudar alguma coisa na política externa americana se for eleito? O Paulo Gorojão (1082), Paulo Rigueira e Nuno Mota Pinta debatem a questão (e alguns mails que recebi, nomeadamente do André). Ando com pouco tempo, por isso, fico à espera dos posts prometidos do Paulo Rigueira, mas antes acrescentaria o seguinte.
O texto de Sam Berger na Foreign Affairs, um dos muitos veteranos da Administração Clinton que aconselha Kerry desenvolve vários aspectos que o candidato não quer ou não pode. E reparem que ele é um bom exemplo de uma equipa de conselheiros muito internacionalistas, musculados mas internacionalistas, do segundo mandato de Clinton,(como realçou o Paul Krugman ainda há pouco aqui em Londres). Nye, Holbrooke e muitos republicanos têm estado globalmente de acordo em criticar a obsessão com o poder militar da Administração Bush, e na necessidade de voltar a dar a importância devida à diplomacia, às alianças, às organizações internacionais.
Quanto a alianças dos capazes, embora perceba a desconfiança, diz-me uma fonte americana envolvida no processo antes de vir para Londres que se trata de uma manifestação de apoio à pressão crescente no seio das cabeças pensantes das forças armadas norte-americanas no sentido de conseguir convencer a Administração a apostar nos aliados tradicionais em termos de upgrading de treino e tecnologia. Espero que seja assim, senão a NATO vai receber um golpe fatal.
Por outro lado, é claro que Kerry não pode dizer que não defende os EUA, sozinho se for preciso! Esta é aliás, uma falsa questão como todos sabem. O problema está na distorção do direito de auto-defesa previsto na Carta da ONU com a ideia de guerra preventiva - curiosa homenagem do vício à virtude... De acordo com esta nova «regra» o ataque japonês a Pearl Harbour em 1941 seria perfeitamente legítimo! Falar muito de Israel, ou da França, podia levar igualmente ao suicídio eleitoral. Aqui concordo com o cepticismo do Nuno Mota Pinto. Mas há muita coisa que poderia render votos que Kerry não diz!
Finalmente, a questão continuidade é sempre difícil, porque, como refere Paulo Gorojão é uma questão de grau. Afinal, há aspectos centrais da política externa norte-americana que se mantém desde a independência... Mas também é claro que a questão do poder é essencial. Se a Europa continuar fraca e desunida, mesmo os pró-europeus em Washington não podem fazer milagres pelo seu peso e influência internacional. Isso é verdade. Por outro lado, alguém pode ser menos pró-europeu ou pró-internacionalista do que Bush? Alguém pode causar mais estragos no sistema internacional? 
  D Day minus 5 Erros meus, má fortuna, amor ardente levaram a uma ausência de alguns dias deste blog. Mas retomamos semper fidelis ao estoicismo que nos leva a não correr por nada, a nunca procurar apanhar o americano, a série de homenagem ao D Day e aos dois estadistas que estiveram por detrás da derrota do nazismo e da construção de um mundo novo.
Aqui ficam mais uma palavrinhas com grande eco na actualidade de Sir Winston:
But what is Europe now? It is a rubble-head, a charnel-house, a breeding-ground of pestilence and hate. Ancient nationalistic feuds and modern ideological factions distract and infuriate the unhappy, hungry populations. Evil teachers urge the paying-off of old scores […] Is there to be no respite? Has Europe’s mission come to an end? […] Do we imagine that we can be carried forward indefinitely upon the shoulders – broad though they be – of the United States of America? […] This is the supreme opportunity, and if cast away, no one can predict that it will ever return or what the resulting catastrophe will be. […] There are several bodies which are working directly for the federation of the European States and for the creation of a Federal Constitution for Europe. I hope that may eventually be achieved.
United Europe, Discurso no Royal Albert Hall, Londres, 14 de Maio de 1947,
No mesmo discurso, Churchill deixa ainda claro que é sua vontade que a Grã-Bretanha se associe a esse movimento. Algo que parece hoje mais distante do que nunca, com o «debate» europeu no Reino Unido a ser dominado pelas teses mais mirabolantes e as vozes do bom-senso quase inaudíveis. 
Este é um blog liberal, cheio de convicções e à procura de patrocínios. Temas? As coisas que realmente (me) interessam. Procuramos, acima de tudo, seguir as máximas do nosso João das Regras «Olhai, porém vede!» e do imortal bispo inglês Joseph Butler, «Things and actions are what they are, and the consequences of them will be what they will be: why then should we desire to be deceived?» Divirtam-se, que nós também. Comentários: BrunoCardosoReis@sapo.pt

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